quarta-feira, 30 de junho de 2010

Sobre limpezas e lavadas

por Tiago Lafer

Até este momento não escrevi para o blog; não me senti apto para tanto. Mas já que a polêmica da limpeza étnica está pegando resolvi deixar de lado a inibição e postar um comentário.

Quando comediantes de stand up querem umas risadas fáceis eles apelam para o recurso do xingamento. Não raro, depois de uma piada mal assimilada, eles soltam um “what the fuck?!” e a plateia como um bando de robôs soltam uma gargalhada. Faz parte do contrato entre piadista e público: a identificação fácil com quem está no púlpito para que as outras piadas , as boas, nåo sejam anódinas. Reza a lenda que "Fuck" seria uma sigla medieval para “Fornication Under the Consentment of the King”. Nenhum comediante coloca o xingamento dessa forma; não teria o mesmo impacto. O termo “limpeza étnica” tem o mesmo efeito. Ninguém pensa na definição fornecida pela ONU. Todos pensam em genocídio e faz parte do contrato entre ideólogo e plateia que essa confusão seja omitida em nome da causa. Dito isso, o nosso Arturo tem o mérito de livrar-nos de qualquer confusão: definiu perfeitamente o uso do termo “limpeza étnica” ao qual subscreve.

Agora falemos de futebol. O Paraguai eliminou o Japåo nos pênaltis e a Espanha eliminou Portugal por 1X0: nada comparável a lavada que o Brasil deu no Chile, que a Alemanha deu na Inglaterra e que a Argentina deu no México. Essas lavadas encheram os olhos! E dão esperança que as quartas serão mais equilibradas e disputadas.

Para os interessados em opiniões mais competentes que a minha sobre política e Israel fica o link de um professor meu: http://blog.franklingoldgrub.com/category/oriente-medio/page/2/

terça-feira, 29 de junho de 2010

Meu amigo holandês

Por João Carlos Assumpção

Sexta é dia de Brasil x Holanda. E como é meu costume, em vez de enfocar o macro, a análise das duas equipes e o que o jogo representa para cada uma, prefiro ficar no micro.

Admito que sou fã do futebol holandês, que revolucionou o futebol mundial com seu carrossel, quando acabou vice em 1974, perdendo a final para a Alemanha. Quatro anos depois, novamente vice, desta feita para a Argentina. Em 1994 - e é aí que vou para o micro -, acompanhei com quatro amigos brasileiros e um holandês, in loco, nos Estados Unidos, as quartas-de-final contra a Holanda. Conhecemos nosso amigo holandês, que viajava sozinho, num hotel simples de beira da estrada. Conversamos muito com ele e construímos uma bela amizade. No dia do jogo, nós o levamos até o estádio. Um aperto no carro, cinco amigos de verde-amarelo, um de laranja e com o rosto todo pintado das cores da Holanda.

Separamo-nos durante o jogo e no final voltamos a nos reunir no estacionamento, nós cinco eufóricos, ele, cabisbaixo. No carro pouco falamos de futebol, respeitando a dor de nosso novo amigo que no dia seguinte voltaria para casa.
Dois anos depois voltaria a vê-lo. Fui visitá-lo em Gouda, um lindo vilarejo onde morava na Holanda. Foi me apanhar na estação ferroviária, passou o final de semana em minha função e na segunda-feira, quando voltei a Amsterdam, ele se apresentou ao Exército. Fazia parte das tropas de paz que iam monitorar algum canto da ex-Iugoslávia. Um dia me mandou uma foto de lá, vestido de soldado.

Em 1998, na França, quando o Brasil voltou a vencer os holandeses, agora nos pênaltis, ele não apareceu. Ainda nos falamos por telefone, mas seu pai estava muito doente. Quase dois anos depois, quando retornei à Europa, tentei procurá-lo, mas em vão. A família havia se mudado e nunca mais soube deles. Sempre que a Holanda joga penso no Pascal, um rapaz do bem, com quem conversei tanto naquele final de semana em Gouda e o presenteei com uma camisa do Corinthians, outra do Flamengo. Espero que esteja vivo e bem, embora não tenha muita esperança de revê-lo. Foram várias as tentativas, todas infrutíferas, de reencontrá-lo.

Em geral torço pelo futebol holandês, minha aposta inicial para ganhar essa Copa. Mas não na sexta. Sexta, apesar do meu amigo, jamais conseguiria deixar de ser Brasil. E acho que temos time para vencer. E vencer bem. Se vamos conseguir ou não, são outros 500. Mas que estou confiante, cá entre nós, estou.

Sobre limpeza étnica e Gaza

por Arturo Hartmann

Escrevo este post saindo um pouco da linha que adotava para o blog, dando mais destaque às impressões, mais do que qualquer coisa. Mas acho o debate saudável. Um dos termos que usei aqui e alimentou certa polêmica foi "limpeza étnica". O leitor Fábio Cohen e meu colega, e acima de tudo amigo, João Carlos Assumpção, discordaram, com todo o direto, de seu uso. Mas como ainda acredito que ele pode ter sido mal interepretado, colocarei abaixo alguns trechos da introdução que Illan Pappè faz em seu livro "Ethnic Cleansing of Palestine". Meu objetivo é deixar claro que o termo não está baseado em achismos ou em um discurso simplesmente político. É um estudo de História, baseado em uma linha de pesquisa, por mais que se possa discordar dela. Além disso, jogar o termo sem lhe dar seu significado pode dar espaço para imaginar coisas que ele não é.

Como todo estudo de História, ele está sujeito a debate. Não acho que o livro de Pappè deve ser visto como uma biblía, inatacável. Nem que seja perfeito, eu mesmo tenho críticas a ele. Com certeza contém partes que podem ser objetos de críticas, enfim, o desenvolvimento dos estudos históricos têm sua própria escola, suas metodologias, seu espaço de debate. Mas o mérito da obra de Pappè, acredito eu, está exatamente no fato de lançar uma nova luz sobre eventos que sempre tiveram o carimbo oficial da versão israelense, dos heróis da Independência.

Antes dos trechos, um segundo esclarecimento quanto à posição colocada por João sobre o Hamas. Acredito que seja simplificar demais a questão dizer que o Hamas "sequestrou" a população palestina de Gaza. Não quero me estender muito sobre a questão, afinal de fato é complexa, mas o Hamas foi eleito em eleições que, em minha opinião, são completamente sem pé nem cabeça (para a Autoridade Nacional Palestina), pois este é um governo que não governa absolutamente nada, a não ser questões civis dentro das cidades palestinas. O controle da população palestina continua, em primeiro lugar, nas mãos de Israel. Por isso dizemos que a Palestina está ocupada. Mas de qualquer jeito, seu resultado foi legítimo.

Dizendo isso, chegamos a 2006, quando o Hamas, contra todos os prognósticos foi eleito, em eleições aprovadas por observadores internacionais. Um voto de protesto da população palestina devido ao fracasso de Oslo e de Camp David, um recado contra a corrupção do Fatah. A escolha por negociações que não levaram a nada foi punida com a vitória rival. Todas as escolhas feitas pelo Hamas podem ser questionadas, inclusive pode se acusar o movimento de covardes ações terroristas. Mas tachá-lo em primeiro lugar como um movimento terrorista, ainda mais quando ele faz parte de algo maior, a questão palestina, distorce a realidade. O argumento, como é geralmente utilizado, de que o Hamas é terrorista ou de que sequestrou a população palestina, parece eximir Israel de suas ações. Movimentos pró-Palestina, por exemplo, rebatem e acusam o governo de Israel de terrorista e, sob a visão exposta, poderíamos inclusive dizer que o governo israelense sequestrou sua população, que é vítima de massa de manobra de políticos, como colocou João. Apenas para exagerar o argumento, podemos dizer isso sobre o Estado brasileiro.

No quadro de análise geral, e levando em conta as culpas do Hamas, Israel não pode ser isentado de suas ações. Por exemplo, do bloqueio que realiza desde a eleição do Hamas e dos ataques criminosos que levou adiante em 2009. Novamente, esclareço, o termo "criminoso" aqui colocado não foi inventado por mim, mas faz parte de um documento produzido por Richard Goldstone, observador e relator da ONU, que declarou que tanto o Hamas como Israel cometeram crimes de guerra. (http://www2.ohchr.org/english/bodies/hrcouncil/docs/12session/A-HRC-12-48.pdf). Trecho: "Estatísticas sobre palestinos que perderam suas vidas durante as operações militares variam. Baseado num campo extenso de pesquisa, o número total de pessoas mortas está entre 1387 e 1417. As autoridades de Gaza reportam 1444 fatalidades. O governo de Israel provê um número de 1166. As informações providas por fontes não governamentais na porcentagem de civis entre aqueles mortos são geralmente consistentes e levantam sérias preocupações sobre o caminho que Israel conduziu em suas operações militares. (...) De acordo com o governo de Israel, durante as operações militares, houveram quatro fatalidades israelenses no sul de Israel, dos quais três civis e um soldado. Eles foram mortos por foguetes e ataques de morteiros por grupos armados palestinos. Em adição, nove soldados israelenses foram mortos durante as lutas dentro da Faixa de Gaza, quatro deles resultado de fogo amigo". Mais uma vez peço que não confiem no meu resumo e leiam o relatório, disponível na íntegra no link que segue. Lá todos os detalhes de crimes feitos por Israel e pelo Hamas. Endosso a indicação de livro de João Carlos, mas dou outra, "Hamas: from resistance to government?", de Paola Caridi. Não acho o micro desimportante, mas o macro nos situa, nos ajuda a não cair em erros, a entender o cenário no qual os indivíduos se movimentam. Fica a dica de leitura de ambos para os que se interessam pela questão.

Agora, alguns trechos, poucos, prometo, do capítulo 1 do livro "Ethnic Cleansing of Palestine", de Illan Pappè. É apenas uma forma de introduzir conceitos mais concretos sobre a obra. São escolhas minhas e a tradução livre é feita por mim, já que o livro ainda não ganhou edição brasileira.

:
"Limpeza étnica é hoje um conceito bem-definido. De uma abstração associada quase que exclusivamente aos eventos na ex-Iugoslávia, 'limpeza étnica' veio a ser definido como crimes contra a humanidade, punido por leis internacionais. (p. 1)

(...)
A enciclopédia Hutchinson define limpeza étnica como a expulsão por força com o objetivo de homogeneizar população etnicamente mista de uma região particular ou território. O propósito de expulsão é causar a evacuação do maior número de residentes possíveis, por todos os meios possíveis ao expulsante, incluindo meios não-violentos, como aconteceu com os muçulmanos na Croácia, expulsos depois do Acordo de Dayton em novembro de 1995.

Essa definição é também aceita pelo Departamento de Estado do Estados Unidos. Seus especialistas adicionaram que parte da essência da limpeza étnica é a erradicação, por todos os meios possíveis, da história de uma região. (...) O resultado final de tal ato é a criação de um problema de refugiados. O Departamento de Estado observou em particular o que aconteceu ao redor de maio de 1999 na cidade de Peck no oeste de Kosovo. (p. 2)

(...)
Quando nos voltamos à ONU, achamos o emprego de uma definição similar. A organização discutiu seriamente a questão em 1993. O Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) da ONU liga o desejo de um Estado ou de um Regime de impor um domínio étnico sobre uma área mista - como foi feito na Grande Sérvia - com atos de expulsão e outros meios violentos. O relatório que a Acnur publicou define atos de limpeza étnica incluindo 'separação de homens e mulheres, explosão de casas' e, subsequentemente, a repopulação das casas que permanecem com um outro grupo étnico. Em alguns lugares de Kosovo, o relatório nota, as milícias muçulmanas resistiram, e onde a resistência incomodou, a expulsão levou a massacres.

O plano D de Israel, mencionado no prefácio, contém um repertório de metódos de limpeza que um a um encaixam-se nas formas que a ONU descreve na sua definição de limpeza étnica, e foi a base para os massacres que acompanharam a expulsão massiva. (p. 2)

(...)
No entanto, devo adicionar, que devemos pensar em aplicar - para que a paz tenha chance - uma regra de obsolescência neste caso, mas sob uma condição: que uma solução política normalmente considerada como essencial tanto pelos EUA como pela ONU seja imposta aqui, o retorno incondicional dos refugiados a suas casas. Os EUA apoiaram tal decisão da ONU para a Palestina, a de 11 de dezembro de 1948 (Resolução 194), por um curto tempo (1949). (p. 7)

(...)
Uma segunda, e mais desprezerosa tarefa, foi a reconstrução dos métodos que Israel usou para a execução de seu plano master para a expulsão e destruição, e examinar como e em que extensão estão tipicamente afiliados com atos de limpeza étnica. Como disse antes, se jamais tivéssemos ouvido sobre os eventos na antiga Iugoslávia, mas tivéssemos conhecimento apenas do caso da Palestina, seríamos perdoados por achar que as definições dos Estados Unidos e da ONU foram inspiradas pela nakba, até o seu mais específico detalhe. (p. 9)

(...)
Mas, para além de números, é o grande abismo entre realidade e representação que é o mais incompreensível no caso da Palestina. É realmente difícil de entender, e, para além disso, explicar, porque o crime que foi perpetrado nos tempos modernos e numa junção da história que pedia repórteres estrangeiros e observadores da ONU presentes, fosse completamente ignorado. E, ainda, não há como negar que a limpeza étnica de 1948 foi erradicada quase completamente da memória global coletiva e apagada da consciência mundial. (...) Imagine agora a possibilidade de este fato jamais chegar aos livros de história e que todos os esforços diplomáticos para resolver o conflito que romperam neste país deixem de lado, senão ignorem, este catástrofico evento. (p. 9)

De novo, o sul de Tel Aviv

Por Arturo Hartmann

Fomos no último sábado ao sul de Tel Aviv novamente. Este segundo contato com a comunidade que se aglomera neste bolsão de pobreza apenas confirmou a primeira impressão que tivemos: aqui há um mundo onde o silêncio é a melhor forma de se proteger. Jornalistas e suas perguntas não são bem-vindos. Eles vivem entre governos africanos dos quais tiveram que fugir, que os expulsaram de sua terra e no território israelense que não garante muito uma situação estável. O sul de Tel Aviv de fato virou um bolsão de negócios não exatamente legais.

Sentamos em um café, em um dos poucos restaurantes que nos acolheram com certa simpatia. Usualmente são os russos que nos impedem de filmar, ou são grossos com clientes, especialmente os novos estrangeiros. Era um restaurante de sudaneses e eles fizeram questão de que víssemos o jogo Gana X Estados Unidos com eles. Sentei com um cliente, falava um bom inglês. Não queria dar entrevistas. As histórias de Darfur são tristes. Ele disse que as pessoas de Darfur não gostam de dar entrevistas, querem se proteger do governo que deixaram para trás. Ele me diz que está sozinho em Israel, que sua família foi morta. Como a dele, muitas histórias são assim.

O dono de bar, no entanto, não tinha o canal que iria passar o jogo. Ele nos guia até o bar de um eritreu, outro dos grupos de refugiados que estão por aqui. Mas quem de fato torcia eram ganeses. Um deles olha para mim no meio do primeiro tempo e grita: “This is Africa, this is not America”. Sentiam orgulho por ver seus compatriotas enquanto lutam por uma vida por aqui. Encontramos um sudanês e um eritreu que podem nos esclarecer um pouco da situação da comunidade que se aglomerou na parte sul da capital israelense. Mas ainda nada garantido. Tudo pode mudar na vida dessas pessoas.

No final da partida, já na prorrogação, quando Gana estava um gol à frente, quando parecia que os africanos de fato passariam a próxima fase, eles comemoravam. Um deles me disse: “Obama está conosco”. De fato, as nacionalidades se misturam. Adaptam-se aos olhos, à interpretação, ao sentimento. Estar longe de casa – no caso destes africanos - ou perto de um conflito – como palestinos e israelenses - nos acomete de paixões. Estar perto da pobreza, somos brasileiros e sabemos, também. Bill Clinton, já nos minutos finais, aparece no telão. Um ganês não se contém: “Go home!”.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

"Na praia"

Por João Carlos Assumpção

Sei que segunda é jogo do Brasil e só vai se falar nisso. É justamente por este motivo que vou mudar de assunto.

Vou falar de literatura. Ou melhor, de política. Ou de conflito. Um dos livros mais vendidos em Israel é "Son of Hamas", de Mosab Hassan Yousef, escrito com o jornalista Ron Brackin. Encontra-se em português, com o título "Filho do Hamas - Um relato impressionante sobre terrorismo, intrigas políticas e escolhas impensáveis".

Não é muito bem escrito, não, e tenho uma série enorme de críticas à obra. Mas vale ler, pois conta histórias... impensáveis. Que até parecem mentira. Mostram o relato de um dos filhos de um dos fundadores do Hamas, organização terrorista palestina, sendo que o rapaz acabou colaborando com o serviço secreto israelense.

Ele trocou o islamismo pelo cristianismo, talvez seis por meia dúzia, o que me deixa com um pé atrás. Fala muito em Deus, eu prefiro falar nos homens e mulheres. Mas, enfim, mostra a corrupção de Yasser Arafat, os bastidores do serviço secreto israelense, das organizações palestinas, é um livro que dá para terminar em dois dias.

O que mais me chama a atenção é como um povo pode - e acaba sendo - massa de manobra de seus políticos. Isso acontece com os palestinos, que tiveram Gaza sequestrada pelo Hamas.

Podem discordar de mim, mas é o que acho.

É tão difícil opinar, pois nós, do mundo ocidental, temos enormes dificuldades de entender as complexidades que envolvem essa região do Oriente Médio. Sou, portanto, reconheço, um mero aprendiz.

Recomendo outros dois livros, muito mais bem escritos, que não são ligados ao Oriente Médio, mas sim às questões humanas. Um dele é o "Na Praia", de Ian McEwan, um mestre da escrita, que mostra o que o não-dito pode representar numa relação entre duas pessoas. Outro é "Adeus, China - O último bailarino de Mao", de Li Cunxin. Um livro humano que demonstra o mau que Mao (parece um trocadilho, sei lá) fez à China. Muito mais bem escrito que "Filho do Hamas".

De qualquer forma, continuo pensando no micro, não no macro. Sábado à noite fui tomar uma cachaça (quer dizer, eu fiquei no chope, ele na cachaça) na Vila Madalena com um grande amigo que fiz em Tel Aviv e que está passando férias no Brasil. Um primo distante. Gente boa pacas. Um cara sionista, que não concorda com termos como limpeza étnica, assim como eu não concordo, que diz que muitos usam o termo limpeza demográfica, que está buscando suas raízes judaicas e com quem adorei conversar. Um amigo. Não importa a ideologia. Importa a pessoa. E ele é um cara do bem. Lembrou que "somos apenas 13 milhões no mundo". Por que incomodamos tanto? Já estou falando no plural, incluindo-me na contagem, como ele me incluiu, mas sigo pensando, como ele pensa, que temos que levar os direitos dos palestinos em conta, assim como os palestinos têm de levar os israelenses e os judeus em conta para chegarmos à paz.

Temos mesmo. Ele acredita na paz, num futuro não tão distante assim. É um otimista. Eu já sou mais cético... E viva o Brasil! Que melhore contra o Chile e passe às quartas-de-final.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Mais um dia em Hebron*

por Arturo Hartmann

*atualizado às 20h36

Esta cidade marcou minha primeira passagem por Israel/Palestina. Hebron é o absurdo, o cotidiano da ocupação. A equipe conversava com um palestino dono de loja dentro de H2, a parte da cidade controlada pelos israelenses e onde vivem os colonos. Ele está na encruzilhada que marca a ocupação de Hebron.

Observamos então um movimento anormal. Muitos coletes "Press" desciam a esplanada que separa a entrada da Mesquita de Abraão da rua Shuhada. Mudavam o dia-a-dia daquela parte silenciosa, deserta, fanstasma da cidade. Ali, apenas os judeus israelenses podem circular livremente. E os ocasionais estrangeiros.


membros do Knesset andam pelas ruas de Hebron
foto: José Menezes

Sabemos então que um grupo de 4 memebros árabes (os árabe-israelenses, ou os palestinos de 48, depende a quem se pergunta) do Knesset israelense irão caminhar pela rua Shuhada guiados por membros do Breaking the Silence, uma organização de ex-soldados que reportam os abusos do exército israelense na ocupação de Hebron. (*correção: os 4 membros do Knesset que caminharam pela rua Shuhada eram todos do partido Hadash de Israel, o partido comunista. 3 destes membros eram árabes e um deles era judeu). Eles apontavam para as lojas trancadas, as estrelas de David pichadas onde antes era a morada e o sustento de palestinos.

O conjunto todo protestava contra uma decisão da polícia de Hebron - a israelense - de que agora nem mesmo os árabe-israelenses - que são teoricamente cidadãos de Israel - podem caminhar por esta rua desde 1994, fechada após o massacre Goldstein na mesquita de Abraão. Como deputados, não poderiam ser barrados pela polícia, ganham imunidade.

Mas o conjunto de deputados e ex-soldados não caminhava sozinho. Os moradores decidiram protestar. Os colonos bradavam gritos Um alto-falante portátil, um microfone e algumas ideias religiosas. Para eles, não há abusos na força policial e militar que permite o cotidiano de cerca de 500 colonos. Em meio a uma cidade dentro do que em geral é aceito como Território Palestino. A manutenção da ocupação é legítima para eles, é dever do Estado que lhes concede subsídios para viver fora de Israel.

judeu ortodoxo morador de Hebron confronta
judeu israelense membro do Breaking the Silence
foto: Lucas Justiniano

"Terroristas", "Voltem para o Marmara", dizem aos palestinos. "Traidores", "A mãe de vocês....", gritam aos israelenses do Breaking the Silence. Nossa equipe também recebe alguns "elogios". Um garoto grita para José de Menezes: "Você é merda, cheira a merda, veio da merda".

judeu grita sarcasticamente "Shalom"
foto: José Menezes

Mas um dos colonos foi símbolo do que se observa por aqui. Ele gritava "Shalom", num tom jocoso. Um tom jocoso que deve ser universal. Eu o observava. Ele tomou a atitude menos cínica possível. Zombou da paz. Este parece ser um hábito comum por aqui, zombar da paz, seja nas altas esferas de governo ou em uma caminhada rotineira pelas ruas fechadas a palestinos de Hebron.

Welcome, welcome, gritam os garotos palestinos quando voltamos ao mercado da cidade velha. Eles vendem as pulseiras com o desenho da bandeira palestina que Oslo permitiu que tremulasse em alguns pontos da Cisjordânia e Gaza. Na esteira, veio o Acordo de Hebron, que desenhou esta arquitetura de segregação. Welcome, welcome. Bem-vindos à Hebron.

Diálogos Brasil-Argentina em Askar

por Arturo Hartmann

Não sei uma palavra de árabe. Pelo menos não o suficiente para travar um diálogo. Mas enquanto andávamos pelo campo de refugiados de Askar, o futebol proporcionou assunto, ele foi a linguagem universal.

As crianças aglomeravam-se ao nosso redor, curiosas com as câmeras. Os velhos nos davam apenas o respeitoso "Sallam alleykum". As crianças queriam conversar, era mais provocação do que qualquer coisa. A apresentação comum não era pelo nome, queriam saber para que time torcia. O padrão era apontar para quem se queria conhecer e perguntar: "Brasil ou Argentina?". O diálogo virava então uma profusão de "Kakás", "Messis" e "Cristiano Ronaldos" acompanhados de mãos que imitavam uma balança. Quem valia mais?

Um garoto dentro da Associação de Askar jogava dominó, mas queria brincar comigo. Falou algo em árabe e estendeu a mão. Não hesitei: "Brasil ou Argentina?". "Argentina". Retirei a mão e recusei o comprimento. Todos na sala riram.

Nossa rivalidade cruzou o mundo. E me deu assunto para mais de hora com as crianças palestinas do campo de refugiados de Askar.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

O time do campo

por Arturo Hartmann

Voltamos a Terrritório Palestino, a Cisjordânia. A pequena ausência de relatos se deve ao trabalho cansativo dos últimos dias. Mas escrever e relatar o que vemos e sentimos neste blog faz parte do trabalho.

Nesta volta, nossa primeira parada foi a cidade de Nablus, mais especificamente Askar, um campo de refugiados em seus arredores. Famílias de palestinos que viviam no que chamam de território de 48, ou no que nós conhecemos por Israel. Foram expulsos naquilo que as versões da história podem dar como a guerra dos árabes contra Israel, para sua total destruição, ou a limpeza étnica que as forças judaicas realizaram contra os palestinos, para a construção do Estado judeu.

Dois dias antes conversamos com um palestino de Jaffa, um árabe-israelense. Ele vive em um lugar para quais muitas das pessoas que encontramos em Askar sonham voltar. No campo de refugiados, encontramos um jogador estrangeiro, sul-americano, que joga pelo campo de Askar. Sua história começou na Espanha, mas então recebeu uma oferta do futebol de Israel. Ali ficou cerca de 7 meses, mas o time todo foi desfeito após uma temporada que não agradou ao dono. Acabou na Palestina. Fez questão de entrar na aventura de jogar na terra do conflito porque almejava um país árabe rico. Queria os milhões do Golfo. Como muitos.

A história se assemelha muito com tantas outras do mundo do futebol que ouvimos no Brasil. Até certo ponto. Isso se não fossem as bandeiras da ONU e as placas de Agência para os Refugiados Palestinos (Unrwa) em todas as escolas. Se não fosse pelo desespero de sua mãe ao saber para onde o filho ia. Pela preocupação de estar indo para a terra onde Gaza estava sendo atacada. Ao seu redor, no lugar onde mora, os postos de controle do exército israelense. E dando vista do telhado da casa onde mora no campo, o assentamento de Elon Moreh.

Sua aventura futebolística o levou à terra de conflito. Impressionou-se com as histórias que ouviu dos palestinos sobre soldados que atiravam de pontos altos, para baixo. As pessoas não podiam sair de casa. Era o toque de recolher da Segunda Intifada. Nablus, consenso, na Cisjordânia, foi a cidade que mais sofreu, foi ela que centralizou o levante. A pobreza e precariedade de estrutura de Askar, no entanto, lembraria seu país. Lembraria o nosso Brasil.

Concorrência desleal

Por João Carlos Assumpção

Quando estava indo ao aeroporto Ben Gurion para voltar ao Brasil, fiquei muito aborrecido com uma situação que fez com que eu parasse para pensar. Até consultei e depois desabafei com o Arturo. Reservei um motorista de táxi num hotel que costumava frequentar, na antevéspera e na véspera liguei várias vezes para ele, deixei mensagem, nada.
Pedi outro para o hotel. Chamaram um novo, que inclusive, para minha surpresa, cobraria menos do que o primeiro, mesmo sendo shabat (dia de descanso judaico onde praticamente nada funciona em Jerusalém).

Enquanto o motorista que não respondia minhas ligações havia passado o preço de 320 shekels (a moeda israelense), cerca de 160 reais, o segundo pediu 265 shekels.
Quando já havia acertado com o novo motorista, não é que o primeiro me liga? E me diz: "Com o condutor que te indicaram, você não chega ao aeroporto. Ele é árabe e não vai passar pelos postos de controle. Você tem que viajar com um motorista judeu." Era mentira.

Fui averiguar e se o motorista, seja ele árabe, judeu, o que for, estiver com um táxi credenciado, pode passar pelos postos de controle, sim. Fiquei irritado, disse que se ficasse no posto de controle o problema era meu, embora soubesse que não havia risco disso, e que faria o trajeto com o motorista árabe, indicado pelo hotel.

Não é que no dia seguinte o motorista árabe não estava se sentindo bem e indicou um amigo para me levar ao Ben Gurion? Fui com ele, que era judeu e me cobrou os 265 shekels combinados, e que confirmou que o primeiro motorista era, o que chamaríamos no Brasil, um canalha. Pois tentou assustar um estrangeiro, que não vive em Israel e estava apenas começando a conhecer a realidade do país, para passar um colega para trás. E usando a questão política-religiosa da região. De maneira mentirosa.

Mas picaretas há em todos lugares. Em Israel, no Brasil, na Europa, na África... Como há gente bacana, caso deste motorista árabe, que passou a corrida para um amigo (judeu) e deste motorista judeu que me levou ao aeroporto e se mostrou gente finíssima.

Brasil x Costa do Marfim

foto: José Menezes


Brasil x Costa do Marfim em Nablus, maior cidade da Cisjordânia. O jogo foi projetado em praça pública - com os prédios ao fundo - para milhares de pessoas. A torcida era 100% brasileira.

Gentileza gera...

por João Carlos Assumpção

Quando estava em Jerusalém, o Arturo, o Lucas e o Zé (Teles de Menezes) estavam nos territórios palestinos. Depois de algumas cervejas, liguei contente para um deles, imagino que tenha sido para o Lucas, já nem me lembro mais, não me perguntem meu teor alcoólico, por favor. Mas sei que em algum momento conversei com o Zé, que me disse que o pessoal onde eles estavam, os palestinos, digo, são muito bacanas, gente fina pacas, e que estavam recebendo o grupo muito bem, mas muito bem mesmo.

Daí eu respondi que o daqui (de Jerusa, como o Lucas chama Jerusalém) também. Cheguei sozinho, fui muito bem tratado e logo me enturmei com o pessoal. Falar que você é brasileiro abre, neste canto do mundo, várias portas.

E pensei no micro. Olhando os indivíduos, você encontra pessoas muito legais dos dois lados. Como encontra canalhas também. Isso é no mundo inteiro.

Minha impressão de Israel, impressão de alguém que fazia 21 anos não pisava na Terra Santa, mudou. Achei o povo muito mais simpático do que da outra vez. Ou talvez eu tenha mudado, não sei. Gentileza atrai gentileza.

Por falar em gentileza, não posso deixar de citar o vexame do técnico francês, que foi extremamente grosso com o Parreira. Para mim o pior time da Copa, inclusive pelo comportamento fora do campo, não foi a Coreia do Norte, como muitos estão dizendo. Foi a França, um fiasco total. Nem deveria ter ido à África para fazer o papel ridículo que fez. A Irlanda certamente representaria melhor o continente europeu.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Vida e morte

Por João Carlos Assumpção

Fui jantar com um dos meus grandes amigos, um jornalista que conheci em 1995, quando eu estava na Folha e ele, no Jornal da Tarde. Ficamos amigos no ano em que o primeiro filho dele nasceu. Tive o prazer de acompanhar o crescimento do garoto, que hoje está com 15 anos e joga basquete na Hebraica, como militante - não, não é judeu.

No jantar, pude constatar não só como o menino cresceu, mas principalmente como se tornou uma pessoa decente, íntegra, com valores. Ele disse que é ateu, criticou todas as religiões e completou dizendo que temos de fazer o bem porque é legal ajudar os outros, não porque desejamos ir pro céu, já que não acredita nele nem no inferno. O inferno, como ele mesmo disse, para muitos é aqui.

Vendo o garoto, agora já um rapaz, pensei nas pessoas que encontrei em Israel. Numa, em especial. Estava num pub com um grupo de cerca de dez israelenses, quando um soldado, que estava na mesa, disse que já havia matado duas pessoas. E contou com prazer. Outro comentou que o mundo sem os árabes seria melhor. Não sei se era verdade o que o primeiro me contou, mas fiquei espantado. Tentei entender a realidade deles, que é completamente diferente da nossa. Só que não consegui.

Prefiro pensar em outra realidade, na de um amigo dinamarquês com quem falei por telefone logo após a estreia da Dinamarca, derrota para a Holanda por 2 a 0. Perguntei se havia acompanhado o jogo, respondeu que só até o 1 a 0, pois estava atendendo um paciente terminal - é psicólogo e trabalha com doentes que têm expectativa de vida inferior a seis meses.

Afirmou que, para essas pessoas, muitas das quais já estão mais para lá do que para cá, o futebol está longe de ser uma prioridade. E para ele também. Torce para a Dinamarca, claro, mas é pragmático. Disse que uma derrota na estreia não estava fora dos planos, que teriam de vencer o segundo jogo. Venceram, se bem que agora pegam o Japão em desvantagem. Seja pelo saldo de gols, seja pelo futebol, já que os japoneses têm jogado melhor.

Pelo meu amigo, vou torcer pela Dinamarca. Mas sei que, se não se classificar, ele não vai se importar muito, até porque seu segundo time é o Brasil, que já está classificado. E se depois o Brasil cair fora, ele também não vai chorar, como chorou conosco em 1982, quando a seleção de Telê perdeu para a Itália, pois sabe que na vida, como dizem os judeus ortodoxos, há coisas mais importantes. Certamente, no entanto, entre elas não está ou não deveria estar a religião. Pois em nome dela já se matou gente demais.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

O imediatismo e os palavrões

Por João Carlos Assumpção

Como as pessoas são imediatistas. Bastou o Brasil vencer aquela que era considerada a melhor seleção africana da Copa para todo mundo começar a elogiar o time. A Costa do Marfim pode ter sido muito badalada, tem bons jogadores, mas hoje bateu, bateu e bateu. O futebol robótico da Coreia do Norte é mais difícil de enfrentar do que uma seleção que sai mais para o jogo e não tem tantos jogadores talentosos como o time de Dunga.

Sigo discordando da maioria dos analistas e torcedores. O Brasil não convenceu apenas hoje. Já tinha convencido contra os norte-coreanos. Se vai ganhar o Mundial, são outros 500. A partir da próxima fase, tudo muda. Um descuido pode ser fatal.

E apesar de gostar do trabalho do Dunga, acredito que ele cometeu uma falha grave. Sim, poderia ter tirado o Kaká, que parecia tenso, entrando na provocação dos africanos. O erro, porém, foi outro. Foi ter xingado o Drogba após a partida, mesmo que em português, sendo que o atacante de Costa do Marfim, ao contrário da maioria de seus companheiros, não agrediu nem bateu nos jogadores brasileiros. Imagine se Maradona tivesse proferido os palavrões de Dunga dirigindo-os a um atleta brasileiro. Daria muito pano para manga.

Mas às vezes a gente perde a cabeça mesmo, principalmente no calor de um jogo de futebol. O importante é reconhecer o erro, pedir desculpas e tentar não o repetir numa próxima ocasião. Um exercício difícil, mas necessário. E que tem que ser diário.

Brasil e Israel

Por João Carlos Assumpção

Eu, que costumo andar com uma mochila do Sportv, que é muito útil e prática em quase todos os lugares onde vou, tive alguns "aborrecimentos" em Israel. E ao ter esses pequenos aborrecimentos, pensei como é complicado e pesado morar nesse país tão bonito e tão cheio de história e contrastes. Tinha que abrir minha mochila pelo menos umas dez vezes por dia. Quando ia a um restaurante, quando passava no cyber café, quando entrava na cinemateca local, quando ia ao shopping, na rodoviária, num pub... E sei que é necessário, é uma região de conflito, senão uma região de guerra mesmo. Atentados terroristas fazem parte da história israelense. Às vezes nem te revistam ou não abrem sua mochila, apenas perguntam se você está levando alguma arma e eu respondia que não.

Mas achei interessante que, quando estava deixando o país para retornar ao Brasil, depois de ter minhas malas revistadas e liberadas, uma moça, que tinha achado estranho eu levar dois barbeadores - é um costume, caso um quebre, tenho outro de reserva -, chegou e me perguntou: "Você vai mesmo para o Brasil?" Eu respondi que sim. E ela: "Mas não para o Rio, né?" E eu: "Não, mas por que a pergunta?" E ela: "Porque dizem que o Rio é muito perigoso. Tem de ter coragem de passar por lá." Eu, que já morei durante dois anos na Cidade Maravilhosa, contei para ela que, quando falava no Brasil que ia para Israel fazer um documentário sobre a Copa vista em região de conflito, muitos me perguntavam se eu era insano e se não tinha medo de sofrer algum atentado, levar um tiro, qualquer coisa assim. E aí ela me disse: "Mas Israel é um país muito mais seguro do que o Brasil."

Não tenho dados para analisar o que ela disse. Dá para perceber, no entanto, que quando pensamos em atrair turistas estrangeiros, ainda temos um longo percurso pela frente, como eles também têm. Pois há perigo lá, como há perigo aqui. E sinceramente não sei dizer aonde me sinto mais seguro. Na verdade até sei. No Brasil, porque sou daqui. Como ela se sentia em Israel, porque é de lá.

sábado, 19 de junho de 2010

Diego Forlán e o Uruguai

Por João Carlos Assumpção

Fiquei muito emocionado com as duas atuações do Uruguai, o empate que segurou contra a França e a vitória por 3 a 0 contra os sul-africanos. Nos dois jogos adorei a atuação de Diego Forlán. Há tempos acho que é um grande jogador e considero até agora o melhor desta Copa.

Adoro a garra uruguaia. Certa feita conheci uma moça que morava no Brasil, mas tinha nascido no Uruguai e tinha um filho fã do futebol da Celeste. Os dois já se foram, mas o futebol e a garra uruguaia continuam aí.

Não sei se o time vai longe nesta Copa, porém cada vez em que o time entra em campo me lembro dos dois.

E vendo o Uruguai jogar me lembrei também de outro, o de 1993, que enfrentou o Brasil nas eliminatórias e acabou eliminado, não participando da Copa dos EUA.

Fui ver o jogo em Montevidéu, empate por 1 a 1, e jamais vou me esquecer de duas cenas.
Uma foi no estádio, quando o Brasil fez 1 a 0 e Parreira levantou-se para dar instruções para o time. Um torcedor ficou irado e gritou: "Senta Parreira, está bom assim, você falando o time só vai piorar."

Lembro-me, também, de um grupo de garotos, 4, 5, 6 anos de idade, gritando para a gente: "Uruguai, Uruguai, Uruguai". Nunca mais os revi. mas cada vez que o Uruguai não ia à Copa lembrava-me deles. Hoje já estão com mais de 20 anos - espero que estejam bem - e contentes com a atuação uruguaia. Um empatezinho contra o México e o time estará nas oitavas-de-final.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Guerra é...

Por João Carlos Assumpção

Vou contar uma historinha que aconteceu na estreia do Brasil na Copa da Alemanha, em 2006. Era o jogo contra a Croácia. Na época, estava no Sportv e vi o jogo com algumas pessoas da Globo, entre elas a Sandra Annenberg e o pessoal do Casseta e Planeta - o Bussunda morreria logo depois, mas não lembro de estar conosco naquela partida.
Os torcedores croatas, numerosos, estavam sentados à nossa frente e a cada ataque do Brasil um deles olhava para a gente e fazia sinais com o dedo do médio, o que nos deixava, claro, irritados.

Até que Kaká fez o gol e um dos integrantes da turma do Casseta começou a gritar: "Lindo, tesão, bonito e gostosão", festejando o 1 a 0. Mas outro resolveu dar outro grito e bradou: Sérvia!!!

Pois foi então que o torcedor croata partiu para cima da gente e por sorte, se não não estaria aqui, acabou contido por seus companheiros. Só que urrava com o integrante do Casseta que havia gritado Sérvia. Ele se defendeu e disse que era como Brasil e Argentina, que gritam Argentina para nos provocar. Não adiantou. O croata retrucou: "Brasil e Argentina não estão em guerra. Os sérvios mataram muitos amigos meus."

E de fato é diferente. Guerra é uma coisa terrível, tive a oportunidade de ver isso na Tchechênia, uma experiência que não gostaria de repetir. E que gostaria que não se repetisse em Israel/Palestina. Para isso, no entanto, os dois lados, repito o que tenho dito, teriam que ceder. E muito. Que não dá para ter tudo e viver em paz está mais do que claro.

A Conta

por Lucas Justiniano

Quando nos perguntam de onde viemos, respondemos com uma palavra que parece mágica : “Brasil”. É mágica pois abre um sorriso no rosto de um povo que não costuma sorrir muito, em alguns, até um certo espanto, meio que não acreditando. Parece que você carrega uma áurea de não sei ao certo o quê.


E isso se deve única e exclusivamente à uma coisa: o Futebol. Somos os embaixadores de um futebol bonito, divertido, bem jogado; o famoso futebol arte. E esse talvez seja o único motivo pelo qual as pessoas de todos os cantos do planeta saibam que no mundo existe um pais chamado Brasil. E que foi nesse país que nasceram Pelé, Garrincha, Sócrates, Zico, Ronaldo(inho).


Temos um compromisso histórico com isso. Quando da escalação final da seleção de Dunga, estava eu completamente decepcionado. Até ali, ainda me restava uma esperança de Ronaldinho e Ganso na convocação; talvez um sopro desse futebol mágico de que estou falando. Minha indignação é porque com a maneira de jogo proposta por Dunga, estamos desrespeitando nossa história, nossa identidade, nossa cultura! E, mesmo se ganharmos a Copa, vou continuar achando isso. O que para Dunga vai ser o momento “vocês vão ter que me engolir”, de soltar bravatas a torto e à direito para toda a imprensa brasileira - dizendo ser “Ele” o dono da verdade -, para mim será um momento melancólico, um momento em que o futebol mais uma vez perdeu a graça. Não me identifico com esse estilo de jogo, porque não fomos - futebolísticamente falando - educados dessa maneira. Essa escola “parreirística” de jogo não me pertence simplesmente porque pertencemos a um país que sabe o que fazer com uma bola nos pés.

Após um dia bem cansativo, jantávamos em Ramallah. Na Tv, um programa com os diversos “top 10” das histórias das copas. O garçom - um palestino - não falava muito bem inglês, mas mesmo assim conversamos durante uma hora, falando apenas nomes de jogadores e comentando os momentos que passavam na Tv. Certo momento, levou ele os dedos aos olhos, simulando lágrimas: era a semi-final de 98, Brasil contra Holanda. Pouco depois , demonstrando ainda mais lágrimas, assistiu conosco à um compacto da final...

Uma foto com o Fenômeno ele tirou quando - como embaixador da ONU - Ronaldo visitou a região em 2005, e disse ser essa foto sua maior herança. Pedimos a conta e ele, meio sem graça, meio emocionado, me entregou. Após ler, confesso que também me emocionei...



quinta-feira, 17 de junho de 2010

Os muitos conflitos desta “terra santa”

por Arturo Hartmann

Jerusalém hoje acordou parada, mas não em silêncio. Segundo números oficiais, até 100 mil judeus ortodoxos ashkenazis foram às ruas manifestar seu repúdio à decisão da Corte de Justiça que proíbe que separem seus filhos de estudar de sefaradim, que segundo eles não teriam os mesmos costumes estritos religiosos.

O debate começou semana passada. O Jerusalem Post, em sua versão inglês, trazia uma matéria especial sobre o conflito que havia numa escola para garotas no assentamento de Immanuel, que fica em território palestino da Cisjordânia. Ali, as garotas sefaradim (judeus vindos do Oriente Médio) chamavam as ashkenazis (originados do Leste europeu) de ashke-naziots. A resposta era algo como sefaradim-baratas, em hebraico.

O debate, incluída aí a manifestação de hoje, foi uma exacerbação do que é visto como uma hierarquização mesmo entre as comunidades judaicas dentro de Israel. A mobilização foi enorme e expõe a importância e o tamanho das comunidades religiosas ortodoxas dentro do país, que muitas vezes se chocam com o conceito de democracia que Israel diz ter. Há liberdade para defender uma posição, mas neste caso de uma posição segregacionista, como noticiou o Haaretz.

Enquanto andávamos pelo centro de Jerusalém e íamos em direção a mais um dia de filmagem (vimos o jogo da Argentina X Coreia do Sul com um grupo de argentinos migrados há cerca de dois anos), pegamos um táxi com um palestino de Jerusalém Leste. O cenário era de ruas fechadas e a polícia atenta para uma nova investida dos manifestantes.

Argentinos assistem ao jogo.
foto: José Menezes


O palestino entrou na conversa e tentou contar um pouco da história da cidade que também é sua. Pergunto se os palestinos têm alguma convivência com esses judeus (os sefaradins) que na teoria são árabes. Diz que não, que eles os tratam igual os ashkenazis, narizes empinados. Mas admite que dentro da comunidade judaica, enxerga uma hierarquia, que a elite política é ashkenazi, que os melhores empregos, em sua maioria, ficam com eles também. E os palestinos? A eles não sobra nada, são a última escala de Jerusalém. Alguns judeus – de qualquer origem – quando chamam o táxi mas percebem que o motorista é palestino, desistem e esperam o próximo. Mas ele não se importa. É seu cotidiano.

Mais uma aula sobre os muitos conflitos deste Estado chamado Israel. Bastou uma tarde.

O exército e Maradona

por João Carlos Assumpção

A Argentina continua mostrando que é séria candidata ao título, embora ache que quando chegar o mata-mata as coisas mudam de figura. A Itália, que começou mal empatando com o Paraguai, por exemplo, pode crescer a partir das segunda fase, como já fez em outros Mundiais. E a Argentina, pelo contrário, cair.

Mas nada tira a emoção de ver Maradona no banco de reservas vibrando com seus jogadores. O time parece muito unido e fechado em torno do treinador. E esse pode ser o diferencial.

Depois das goleadas de Uruguai e Argentina, nos dois primeiros jogos da segunda rodada do Mundial, fiquei pensando que os gols finalmente podem passar a ser marcados com mais frequência. Pois na primeira rodada algumas seleções jogaram tão fechadas que pareciam um exército, defendiam-se em bloco, formavam verdadeiras barreiras.

E foi ao vê-las como exército, caso da Coreia do Norte, pensei no que acontece em Israel, onde o serviço militar é obrigatório para homens e mulheres, os homens ficam três anos no serviço militar, depois a cada ano retornam um mês para defender o país.

Quem anda nas ruas de Jerusalém ou Tel Aviv pode se assustar com tantos soldados. Mas no caso de Israel eles são necessários. Pois a história já mostrou isso. Se Israel não tivesse um exército forte, em 1967 teria desaparecido do mapa.

Neste momento, no entanto, mais do que de um exército, precisa de estadistas, líderes que de fato retomem as negociações de paz. Que façam suas exigências, mas aceitem ceder. Porque ceder é fundamental. Para os dois lados.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

82: ano marcante para brasileiros e palestinos

Por Arturo Hartmann

Vimos o jogo do Brasil ao lado de Ali Zarif, morador de Akko. Ele sempre fez questão de nos mostrar a parte Velha, histórica, da cidade. E apontava incansavelmente bandeiras brasileiras que de fato dominam o horizonte deste lugar onde podem se ver igrejas, mesquitas e algumas sinagogas.

Durante o jogo, Ali vibrava, ficava nervoso, só ficou aliviado quando Maicon marcou o primeiro. E repetia: "Maicon is the best! That´s the brazillian game!". Não concordamos totalmente. Notamos, ali, como aquele árabe-israelense é apaixonado pelo futebol do Brasil.

Em sua casa recebia quase toda família. Um de seus cunhados é torcedor da Itália. Foi lá apenas para provocar. Teve desculpa até o segundo gol. Perguntamos por que torcia para os italianos. Respondeu: "Em 82, quando ganharam, dedicaram o título à Palestina". Ali não ligou muito para a afirmação. Prefere não entrar em assuntos da nacionalidade palestina dentro de Israel. Mas 82 foi um ano marcante para brasileiros e palestinos. Para nós, a tragédia do Sarriá. Para eles, o massacre de Sabra e Chatila.

O jogo da Alemanha e pequenas confidências familiares

por Arturo Hartmann

Jogo da Alemanha nos impressionou a todos, brasileiros, israelenses e palestinos. Parece que pintou candidata a encantar os olhos. De todo o mundo. Ainda é primeira rodada e as opiniões mais realistas por aqui não qualificam a Austrália com um adversário digno de dar aos alemães o posto de favoritos.

Assistimos o jogo com um israelense judeu da pequena e conservadora cidade de Afula, no nordeste de Israel. Mudou-se para Haifa para fazer Universidade. Está no mestrado de Arqueologia. A mudança trouxe a ele muitas coisas novas, como a convivência com os árabes, algo impensável na pequena Afula. Ele mesmo admite que certos comportamentos seus não seriam aceitos por seus pais.

Enquanto explicava como seu pai – um sionista judeu não-crente, não-religioso - havia migrado da Bielorrúsia para Israel, em 1991, assistia à convincente vitória do cabeça-de-chave do grupo D. E explicava como havia se apaixonado pelo jogo do país pelo qual muitos israelenses se negariam a torcer. Ele mesmo admite que usa a camiseta com “Germany” escrito apenas em algumas ocasiões. E evita andar por lugares onde circulem pessoas idosas, possíveis sobreviventes do Holocausto.

No fim, ele queria nos levar para uma cerveja. Diz que não quer mais escutar bandas que boicotam Israel, como Elvis Costello ou Gorillaz (é fã confesso). Gosta de Megadeth, banda que mesmo nos momentos mais impopulares de Israel, toca por estes lados. E fez uma confidência: quer ir morar na liberal Tel Aviv, mas pede silêncio. Morre de medo que seus pais descubram.

Jerusalém e o Shabat

Por João Carlos Assumpção

Estive duas vezes em Israel, a primeira há pouco mais de 20 anos atrás, a segunda, agora por ocasião do documentário sobre a Copa vista em região de conflito.

Jerusalém, pelo que me lembro de 1989, mudou muito, a parte ocidental está muito mais moderna do que antes, parece uma cidade europeia. As pessoas também achei muito mais simpáticas, mais gentis, menos rudes. Talvez tenha sido uma experiência pessoal, talvez o fato de gentileza atrair gentileza, mas acho que há algo por trás dessa minha impressão. Uma nova geração se formou e está hoje nas ruas. E tem suas diferenças com as gerações anteriores.

Discute-se muito hoje em Israel a necessidade ou o desejo de atrair cada vez mais turistas para a Terra Santa, atrair mais estrangeiros para visitarem Jerusalém, uma cidade que abrange algumas das principais religiões do mundo.

Para isso, no entanto, acho que o Estado (judeu) teria que repensar o Shabat. Pois, para quem não é religioso _judeu religioso, digo_, do pôr-do-sol de toda sexta-feira até o pôr-do-sol de todo sábado, praticamente tudo fecha em Jerusalém. Você não vê ônibus circulando, quase não encontra táxi, tem enormes dificuldades para encontrar um restaurante ou um pub aberto, não vê pessoas nas ruas, com todo respeito à religião, é um tédio para o turista que quer viver a cidade. É muito diferente de um domingo no Brasil, onde há várias opções de lazer.

Tel Aviv, que é uma cidade muito mais mundana, não é que nem Jerusalém no Shabat, o dia de descanso dos judeus, que não podem, entre outras coisas, acender a luz, ver televisão, dirigir automóveis... Quem quer seguir que siga, mas conversei com vários judeus não-religiosos que acham muito desagradável ficarem quase que confinados nestas cerca de 24 horas. Direito a transporte público, por exemplo, eles deveriam ter. A tomar café, mesmo em hotéis cinco estrelas, também. E não têm, pois é Shabat.

Contra a maré

por João Carlos Assumpção


Crianças em Akko comemoram vitória brasileira
foto: José Menezes


O assunto hoje parece ser um só: a estreia do Brasil na Copa. E as opiniões são quase unânimes. O time, em resumo, decepcionou. Faltou a arte que (quase) sempre caracterizou o futebol brasileiro. Faltam alternativas para o Dunga, que teria deixado (e deixou) vários craques de fora.

Entendo quem tem essa posição, mas vou remar contra a maré. Gostei do Brasil contra a Coreia do Norte. Não foi um futebol brilhante, mas não foi o futebol de 1990, pareceu mais o de 1994, quando, bem ou mal, fomos campeões. Continuo apostando que a Holanda será campeã, mas nem por isso vou criticar a atuação do time de Dunga contra os norte-coreanos.

Furar o bloqueio da Coreia não é fácil. No primeiro tempo eles se fecharam com tudo, o Brasil tentou, chutava de fora da área, entrava na área, mas três, quatro ou cinco defensores chegavam junto e a coisa não ia. No segundo tempo tudo melhorou depois do primeiro gol, que teria que sair mesmo pela lateral.

O time pode render mais? Muito mais. E pode dar espetáculo? Sim. Deu na Copa das Confederações, em diversos amistosos e em vários jogos pelas eliminatórias.

Claro, ontem começou uma nova fase, são sete jogos, se a equipe chegar às semifinais (aí garante no mínimo o sétimo jogo, mesmo perdendo, que seria a disputa pelo terceiro lugar). Faltam seis (espero).

Estou gostando do Dunga, que tem suas convicções. Admiro quem as tenha, pois não sei se eu mesmo tenho tantas convicções assim. Aliás o admiro porque não tenho tantas convicções assim. Para ser sincero, tenho muuuuito mais dúvidas do que certezas, o que não impede de eu ter gostado dos 2 a 1 da estreia.

terça-feira, 15 de junho de 2010

A Copa em Israel e no Brasil

Por João Carlos Assumpção

Enquanto meus amigos seguem sua peregrinação por Israel, estou de volta ao Brasil para assistir a estreia da seleção na Copa e correr atrás de recursos para o documentário, que ficará sensacional. E ficará melhor ainda por agora eu estar longe _risos.
Para mim a emoção é grande por ser meu primeiro Mundial em casa desde que eu era pequeno, 1978, a primeira Copa de que me lembro bem.

O início da Copa da África vi em Israel, torci muito por África do Sul (contra México) e Uruguai (contra França).

Um dos jogos de que mais gostei _se não o jogo de que mais gostei_ foi justamente Uruguai e França. Podem perguntar? Mas um zero a zero? Sim, um zero a zero. Sou fã do Forlan, que fez uma grande partida, e gostei da forma como o Uruguai se defendeu e segurou o ataque francês, mesmo com um a menos no final. Ops, qualquer semelhança com o Parreira é mera coincidência. Mas defender pode ser bonito também.

Minha seleção favorita, no entanto, segue sendo a Holanda, mesmo depois dos 4 a 0 da Alemanha. A Austrália, cá entre nós, não foi adversária em momento nenhum.
Em Israel, pelo menos em Jerusalém, as pessoas ficam em bares para ver os jogos, bares que se tornaram temáticos durante o Mundial. Em um os atendentes estão vestidos com a camisa da Espanha, em outro, com a da Argentina, num terceiro, com a do Brasil, num quarto, com a da Inglaterra. Mas as pessoas não torcem como no Brasil.

Em Israel, uma zona de conflito _se não uma zona de guerra_, quase todas as casas e carros ostentam bandeirinhas do país. Bandeira bonita, aliás, azul e branca, uma bandeira que nas últimas Copas podia ser vista nos jogos do Brasil, eu sempre observei isso e achei curioso. Como Israel só disputou a Copa de 1970, de lá pra cá teve que torcer para outro time e muitos escolheram justamente o nosso. Deram-se bem.

No Brasil, bandeiras nas ruas, ao contrário de Israel, só acontece durante a Copa. Mas acontece. Gosto de ver os carros de verde-amarelo, os bares, as padarias, as lojas... Depois de ter acompanhado cinco Copas in loco e duas do exterior, nada melhor do que ver o Brasil jogar... no Brasil. Pela TV, escutando o Galvão Bueno, com amigos, filhos de amigos, tendo acordado ao som das cornetas dos apartamentos vizinhos.

O futebol pode não ser a coisa mais importante do mundo _e certamente não é_, como me lembraram alguns ortodoxos em Israel, mas que é divertido pacas, ah!, isso é.

Primeiro dia da Copa nas comunidades africanas do sul de Tel Aviv

por Arturo Hartmann

Nosso primeiro contato com a comunidade do sul de Tel Aviv nos mostrou o quão delicado será nossa abordagem em relação a eles, o quão cuidadoso terá que ser nosso diálogo para que possamos contar sua história. Eles vivem sua própria realidade dentro de Israel, entraram, de certa forma, sancionados pelo Estado. Mas foram colocados, ou melhor, a eles lhes restou uma área ao sul de Tel Aviv, ao redor da Estação Central de Ônibus. Refugiados – do Sudão, da Libéria, da Eritreia e Congo - e trabalhadores migrantes de países asiáticos – das Filipinas, Tailândia e China - vivem em espera. Os primeiros esperam o status de refugiado – o que garante seguro-saúde e direito a trabalhar. Os asiáticos esperam pela próxima permissão de trabalho. A nenhum deles está no horizonte o direito de virar cidadão.

Para eles, este lugar é um trampolim econômico, talvez a única tábua de salvação após a saída por motivos políticos ou econômicos. Encontrar personagens dentro deste bolsão de pobreza pode dar uma melhor perspectiva sobre as políticas deste Estado. “Longe” do conflito, ou pelo menos de seu cerne, podemos entender questões administrativas menos inundadas por paixões políticas.

O jogo da África do Sul X México empolgou poucos. Uma mesa vibrava timidamente com os lances africanos e o gol foi o único momento de explosão. No geral, nesta área, no entanto, a empolgação com a Copa ainda foi pouca. Os gritos mais altos e mais fortes vinham de uma mesa um pouco mais afastada, mas nem por isso a menos barulhenta, onde estava uma brasileira. Ela torcia pelos sul-africanos em seu inglês macarrônico já influenciado por algumas doses de cerveja.

domingo, 13 de junho de 2010

Regras do Jogo

por Lucas Justiniano


foto: José Menezes

Existe uma idade na vida de um homem que eu acho um porre, uma fase em que poderíamos dar um FF (Fast Foward), que é entre os 8 e 12 anos (mais ou menos). Ficam chatos, pentelhos, birrentos, querem ser meio adulto, meio adolescentes, inventam jogos estúpidos, não medem muito as consequências das besteiras que fazem, inventam regras babacas etc etc etc, enfim.

Exemplo disso é em um jogo de futebol, onde sempre tem o dono da bola. E a molecada vai inventando regras, como aquela em que não vale tabelar com a parede, não pode cobrar arremesso lateral com as mãos, e, às vezes, quando tomam o gol que elimina a partida, resolvem usar até a regra do impedimento!

Num jogo como esse, as coisas sempre degringolam e sai briga, aí eles começam a discutir, e o dono da bola quer ter a razão, mas o outro foi quem “inventou” ou deu a ideia da brincadeira, e aí vai e toma a bola do “coleguinha” e eles vão ficar horas (se deixasse) tentando um tirar a bola do outro. Resumindo, nada se resolve, mas é aí que chega um adulto, que vê essa chatice toda e resolve tomar a bola e diz que: “Vocês não sabem brincar, a bola não é de ninguém, e agora ela é minha! Enquanto não pararem com essa palhaçada não devolvo!! E cada um pro seu canto pensar na merda que estão fazendo”.

Vendo daqui, às vezes parece que faltam adultos no mundo. E assim a bola vai ficando, ficando, ficando....

sábado, 12 de junho de 2010

Brasil jamais!!!

por João Carlos Assumpção




Na capa do Jerusalem Post, um dos principais jornais israelenses, artigo assinado por Gil Hoffman defende que os israelenses torçam por EUA, Holanda ou Dinamarca nesta Copa do Mundo. Pelos outros, de jeito nenhum, especialmente o Brasil, que é mencionado na própria capa do jornal _a matéria continua em página interior.

Hoffman diz que levou em conta tópicos como xenofobia, geopolítica e esportividade. Comemora, de cara, o fato de os turcos terem sido eliminados no qualificatório, bem como suecos e noruegueses, que condenam a política externa israelense.

O primeiro país apontado para os israelenses, que disputaram apenas um Mundial, em 1970 e estão fora da Copa na África, não torcer é justamente o Brasil. Segundo o artigo, o motivo é a cooperação com os turcos, iniciada com proposta de acordo que poderia "facilitar a nuclearização do Irã". Cita ainda que o país tratou recentemente o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad como um rei. O segundo citado na matéria é a Espanha, lembrando que cinco israelenses foram atacados na segunda-feira em Madrid e que homossexuais gays israelenses foram alertados para ficarem longe da principal parada gay espanhola.

Segundo Hoffman, é mais fácil decidir contra quem torcer do que para quem torcer, o que, aí quem diz sou eu, pode sinalizar que a política externa israelense precisa de mudanças. E a interna também, como tem pedido a oposição israelense.

Detalhe: apesar do artigo no Jerusalem Post, Hoffman não deve ter muito o que comemorar. Pelo menos aqui em Jerusalém, muitos vão torcer pelo Brasil. O povo israelense parece dividido mesmo entre Brasil, Argentina, Espanha e Inglaterra. E não há pub sem uma bandeira verde-amarela. Sinal de que é melhor o articulista ver os jogos do Mundial em casa, pois não representa a voz do povo, pelo menos quando o assunto e futebol.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Entediados com a ocupação

por Arturo Hartmann

Andar por Hebron com certeza seria um bom tema para o teatro do absurdo. Não traz surpresas, traz surrealidades que para nós, visitantes, são como um parque temático da ocupação. Para os palestinos, o cotidiano de sua cidade.

Posto de controle em frente a loja de Abed - Hebron
foto: José Menezes

Apesar da arquitetura que não passa desapercebida, as torções que fazem palestinos terem suas lojas nos andares de baixo de prédios onde em cima vivem israelenses, há algo que noto melhor agora. Uma dinâmica social que faz com que soldados israelenses e os habitantes palestinos se olhem nos olhos. Em uma vez em um milhão, o sentimento que sai desse contato pode não estar banhado de ódio, de rancor, de violência.

Caminhamos com a CPT (Christian Peacemakers Team). Eles patrulham as ruas de H2 (Hebron controlada pelos israelenses) para documentar abusos de soldados ou de colonos. Parte do trabalho é parar e conversar. E tomar chá, muito chá.

21h da noite, loja palestina na rua Shuhada. A descida que começa na mesquita de Abraão estende-se por 100 metros até a rua. Mas a loja de Abed está do outro lado. Se um palestino quer cruzar para onde estamos, ou até as outras 3 casas de palestinos que se alinham deste lado, devem pedir a permissão do soldado do posto de controle. E só aqueles com algum parentesco podem fazer essa travessia de 5 metros. Para muitos, ela é proibida. Aquele é um caminho reservado aos colonos judeus, aquele é o coração da parte judaica de H2. Ali, por esse enclave, 1800 casas e lojas estão fechadas. Dados de Abed.

21h07. Duas crianças palestinas provocavam os soldados que guardavam a passagem. Em um momento, todos se desarmam. De seus papéis. Por instantes. Os soldados e os meninos, sem deixar suas armas, batiam bola. Mais uma forma de passar o tempo do que qualquer outra coisa. Todos estavam, por um instante, entediados com a ocupação.

O soldado podia, a qualquer momento, empunhar uma arma, carregava em seu ombro o escudo do exército de Israel, estava lá sob as ordens do Estado, muito provavelmente acreditava na missão que levava adiante. Mas talvez estivesse entediado com a sisudez que é devida a este cenário lúgubre. A bola, a molecagem foram mais atraentes. Não via motivo, naquele instante, para ser soldado.

Somos advertidos, não pelo israelense, mas pelo pai do menino. Ele começa a elogiar o soldado, um russo que se diz israelense. Ele de fato é simpático. Falamos de reaggae, de música, de Brasil. Mas ele não quer que documentemos a cena. Ela pode confundir, criar uma ilusão da situação. Um momento de harmonia não retrata os outros milhões de rancor, ódio e violência.

O posto de controle vai fechar, depois não podemos mais passar. Hora de levantar. O jogo pára, deixamos nosso copos de chá na mesa. Yalla. Hora de ir. Os jovens voltam a ser soldados, os meninos são de novo palestinos. Nós observamos. A cena se desmancha. Amanhã, só veremos a ocupação.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Armas e Ipods

por Lucas Justiniano

soldado dorme no ônibus entre TelAviv e Jerusalem
foto: José Menezes

Uma coisa que a princípio se estranha é que caminhando nas ruas e principalmente nas rodoviárias, estações de trem etc. é a quantidade de jovens, fardados e carregando suas armas! Aqui o serviço militar para israelenses é obrigatório e são 3 anos! Então todos quando saem da escola entram no serviço militar. Aí você vê varias “minazinhas” “patizinhas” com seus uniformes e carregando armas. Imagine as “minas” do Porto Seguro, Vera e Santa Cruz fardadas e carregando armas e, junto, seus Ipods, aliás, sobre isso, sempre tive a curiosidade em saber o que as pessoas nas ruas ouvem em seus tocadores,.Zé também compartilha dessa curiosidade, e aí ficamos tentando adivinhar o que as soldadas e soldados ouvem, o que falta é coragem para perguntar...

Enfim, mas o curioso é que elas mantêm a vaidade, usam seus brincos, carregam suas bolsas, perfumes... Fico me perguntando se quando elas se alistam e as melhores amigas vão servir no mesmo lugar, se ficam pulando e dando gritinhos de “Ahhhhh vamos servir juntas, vamos servir juntas!!” Engraçado imaginar essa cena... Ao mesmo tempo, no começo, dá uma certa tensão. Esses dias sentei no ônibus em um banco sozinho, aos poucos fui cercado por soldados voltando do serviço e um deles que devia ter uns 18, 19 anos, sentou ao meu lado com seu fuzil, e para passar o tédio da viagem ou talvez um tique nervoso, ficava mexendo nas travas e era só aquele “trac trac trac” ficava imaginando aquela merda disparando sem querer... any way... você se acostuma e ele resolveu dormir, foi melhor assim...

Por outro lado, fico me perguntado que tipo de cidadão eles querem formar ao obrigar seus jovens a ficarem 3 anos em serviço militar... até imagino que tipo, mas ainda é um pouco confuso na minha cabeça, tento desenvolver isso mais tarde, com o tempo. De uma maneira acho até um pouco triste. Mas eles com certeza estão acostumados a isso...

O time mais popular na Palestina

foto: José Menezes

Entre as seleções, disparadas entre as preferidas temos Brasil e Argentina, com Espanha e Alemanha bastante atrás. No entanto, os time mais populares na região são - sem a menor dúvida - Barcelona e Real Madrid. Messi é o nome mais ouvido e as camisas oficiais são de origem... duvidosa.

Dunga, unanimidade até em Israel

por João Carlos Assumpção

Se há uma unanimidade em Israel, ela pode ser chamada de Dunga. Aqui e em vários outros lugares o técnico da seleção brasileira tem sido chamado de burro pra baixo. Assim que ele convocou a equipe, o Zé (José Teles de Menezes), cineasta que viaja conosco por Israel, me telefonou e disse que tinhamos perdido a Copa. Depois conversei com o Diogo, meu sobrinho que tem 7 anos de idade, que comentou a mesma coisa, reclamando dos jogadores que não foram chamados para defender o Brasil.

Mas insisto que o Dunga está na dele. Pelo menos manteve a coerência e apostou naquilo em que acredita. Admiro quem faça isso. Em qualquer barzinho que você vai em Jerusalém, Ashdod ou Tel Aviv, o assunto surge. Por que não chamou A ou B ou C? Por que não o Roberto Carlos? Até isso tive que ouvir...

Acho que essa equipe, apesar de ser um time que deve entrar em campo por resultados, pode, sim, jogar bonito. E aí Dunga vai calar a boca de muita gente, como aconteceu em 94.

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Por falar em 94, quem deve fazer história é Carlos Alberto Parreira com a África do Sul. Tem tudo para ser eliminado logo na primeira fase, feito inédito para um país anfitrião.
Ele, que já foi demitido em plena Copa do Mundo, em 98, quando dirigia a Arábia Saudita, vai "ganhar" mais um ponto na carreira. A não ser que conte com a ajuda da arbitragem, pois time mesmo os sul-africanos não possuem, não para passar pelo grupo que pegaram.

O Mundial e os ortodoxos

por João Carlos Assumpção

foto: Lucas Justiniano

Os judeus mais ortodoxos, sempre que pergunto a eles, dizem que não vão seguir a Copa da África ou o Mundial, como é chamada a competição aqui em Israel.

Segundo eles, há coisas mais importantes com o que se preocupar. Talvez tenham razão, mas fica difícil viver sem futebol, pelo menos para quem é apaixonado pelo esporte. Como costumam dizer, futebol é a coisa mais importante entre as menos importantes que existem. Espero que seja isso mesmo o que costumam dizer e que eu não esteja dando uma de Vicente Matheus... Mas que é por ai, é.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

"Portais"

por Lucas Justiniano

Meu primeiro contato foi com Jerusalém. Foi ali que me deu o “baque” de onde estava. Tínhamos acabado de chegar do aeroporto e fomos encontrar o Tiago no hotel em que ele estava. Daí, iríamos à casa que alugamos como base. Saí para achar um telefone público para ligar para ele e também comprar cigarro. Fui andando sozinho pela rua. Atravessei a rua, olhando a paisagem, as placas escritas em hebraico, árabe e inglês caiu a ficha! Foi bem maluco imaginar que estávamos no Oriente Médio, em “Jeruza” (apelido carinhoso batizado por Tiago) com mais quatro puta amigos, fazendo um documentário, lugar em que vamos ficar 50 dias. Quatro meses de planejamento, correrias para ajeitar tudo, para a viagem, reuniões diversas, orçamento, equipamento, produção. E ali foi o baque de “Pronto, agora vai ou racha!” Foi bem bom. Arturo teve um desses também, estávamos em Tel Aviv quando cruzamos uma rua e ele viu um banco onde tinha sentado em 1a viagem deve ter dado aquele dejavu, mas dessa vez ele estava com mais três amigos, começando a produção de um filme... Deve ter sido bem bizarro para ele também...

Mas voltando, Jeruza é bem doido. E, já adiantando, pelos outros lugares, aqui, em algumas regiões você não atravessa uma simples ruas, mas sim portais que te levam a outro mundo, isso é muito maluco! Por exemplo, saindo de “Jeruza” Oeste (lado israelense) para “Jeruza” Leste (lado palestino) tem esse baque, a paisagem muda completamente, as lojas, produtos, pessoas nas ruas, as placas, o cheiro dos cafés, narguilles, falafel. E cada lugar tem uma beleza muito particular. E, sem dúvida, seus problemas também...

Chegada

por Lucas Justiniano

Bueno, as coisas têm sido bastante corridas, por isso a dificuldade em mandar notícias. Às vezes viajamos cinco cidades em um mesmo dia, atravessando mais da metade do país (o que para nós não é muito... sendo que isso se faz em duas horas e meia!). Mas não deixa de ser cansativo.

Os primeiros dias foram mais para a adaptação ao fuso horário e também ambientação ao lugar. E isso tem sido incrível! Primeiro pela vivência, e isso após tanto tempo acompanhando as noticias da região, lendo livros e filmes, discussões etc, etc. Estar aqui é uma outra história. As coisas começam a fazer mais sentido, ou ganham um novo sentido, e muitas vezes perdem completamente o sentido, um turbilhão de sensações... Como sou formado em História, fiquei pensando se os cursos não teriam que ser revistos, 1o semestre de aula e o 2o viajando pelos lugares que estudamos, imagina! Seria uma vida e tanto!

Durante o voo

por Lucas Justiniano

Após umas 13 horas de viagem, chegamos bem. O avião é bem desconfortável, quase não dormi e ao meu lado um casal de velhinhos argentinos que sabia como usar a televisão do avião. Eu os ajudava. Em troca, ganhei um biscoito que veio da mala carregada com doces e comidinhas. Eles eram bem gente boa e não me atrapalhavam quando queria ir ao banheiro, quase o tempo todo ficavam andando pelo avião. A única hora que tive que esperar foi quando o senhor estava rezando e eu, apertado, esperando ele terminar! Parecia uma eternidade!

domingo, 6 de junho de 2010

Brasil, Argentina ou Inglaterra?

por João Carlos Assumpção

Quem diria, eu que pensava que Jerusalém iria torcer pela seleção brasileira levei um susto. A preferência entre as equipes, pelo menos segundo um dos institutos de pesquisa locais, deu empate técnico entre Brasil, Argentina e Inglaterra, com ligeira vantagem para esta última.

A Inglaterra teria 21% de preferência entre os locais, contra 19% do Brasil e 18% da Argentina, com margem de erro de quatro pontos para cima ou para baixo, o que é significativo.

Na Mamilla Street, uma das ruas mais fashions de Jerusalém, passei em duas lojas das duas principais marcas esportivas do mundo, em uma me disseram que a camisa do Brasil era a mais vendida, em outra, a da Alemanha. Mas o curioso é a que a camisa do Brasil é vendida nas duas. Há a oficial, com o mesmo preço com que é vendida no Brasil, e há uma outra, da marca esportiva rival, com escudo diferente, que serve para enganar quem não conhece bem a amarelinha. E pelo mesmo preço.

Mas os outros membros da equipe, que estiveram em Haifa, enquanto fiquei entre Jerusalém e Tel Aviv, disseram que lá a maioria torce pelo Brasil. Acredito. E espero que seja assim.

O que tem me chamado a atenção, no entanto, é a questão do futebol-arte. Quem entende de futebol não se conforma com a não-convocação de jogadores como Ronaldinho Gaúcho, Adriano, Pato ou Ronaldo. Mas eu compreendo a mentalidade do Dunga. E estou com ele. Acho que teria convocado a seleção da mesma forma. Por isso, podem começar a me chamar de burro. Mas se o Brasil vencer, haverá o troco.

Pontos de discordância

Por João Carlos Assumpção

A equipe que veio para Israel fazer o documentário é eclética, cada um tem um ponto de vista. Alguns preferem ver o macro, eu prefiro ficar no micro.

Antes de colocar minha posição, tenho que dizer que, apesar do sobrenome e mesmo sendo um agnóstico, quase ateu, sou considerado judeu.
Aqui mesmo em Jerusalém dois ortodoxos aproximaram-se de mim e disseram: se sua avó materna e judia, você é judeu. E minha avó materna era judia, família Segall, neta de um escriba da Tora, nascido em Vilna, na Lituânia.

Judeu ou não, não gosto do termo "região de ocupação", "cidade de ocupação", ou seja lá qual for. Sábado sentei num barzinho, logo depois do shabbat, que há menos de cinco anos tinha sido alvo de uma bomba. Sou contra qualquer forma de violência. De lado a lado. Nunca briguei, nem na escola, pelo menos não fisicamente. Pois, brigas verbais tenho várias, sou complicado pacas.

Prefiro, no entanto, como já disse, prestar atenção ao micro. E hoje vi uma cena linda. Uma cena que mexeu comigo. Dois soldados israelenses, de cerca de 19, 20 anos de idade, ajudando uma mulher muçulmana que havia desmaiado. Os dois filhos dela, um que aparentava 8, 9 anos, o outro de uns 4, 5 anos, este chorando, ficaram assistindo aos soldados auxiliarem sua mãe. Pouco a pouco ela foi se recuperando, agradeceu muito a ajuda dos dois jovens, que esperaram a chegada da ambulância e partiram.

Em vez de falar de guerra, prefiro pensar em episódios como esse. Pois quem atua no micro, como esses dois soldados fizeram, certamente influenciam o macro.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Futebol na Jerusalém fantasma

foto: José Menezes

Olhares sobre uma Jerusalém fantasma, um luto e cansaço pelo que ocorreu por Gaza. Ali, apesar do cotidiano de décadas, um tempo para o futebol.