quinta-feira, 27 de maio de 2010

Os primeiros dias e a busca por personagens

por Arturo Hartmann


A chegada foi uma sensação estranha. Faria o caminho contrário da minha última viagem. Entrei pela Jordânia, me adaptei em Ramallah. Conheci em primeiro lugar os Territórios Palestinos Ocupados. Agora, não. Nossos primeiros dias seriam divididos entre Jerusalém e Tel Aviv. Os primeiros personagens que buscaríamos para nosso documentário seriam aqueles que vivem o cotidiano da sociedade israelense. Ativistas ou aqueles que não se importam com o que acontece para além da fronteira que os separa da Cisjordânia – mais ao leste- ou de Gaza – mais ao sul. Em Jerusalém ignorar esta realidade é mais difícil, pois ela está a um caminhar de dez minutos, está em cada esquina desta cidade que ironicamente insistimos em chamar de santa. Mas não em Tel Aviv, que não à-toa é conhecida como “a bolha”.

Além do conflito entre israelenses e palestinos, que as ações de cada um cuidou de estruturar, nossa preocupação recai também sobre a comunidade de judeus africanos e de não-judeus asiáticos do leste – o que faz com que ignoremos por um momento a elite israelense ashkenazi e os nativos palestinos, o centro do problema. O fato é que esses novos atores, vindos da África negra (como os etíopes e sudaneses) ou da Ásia (filipinos ou tailandeses) posam um novo problema para isso que eu, particularmente, chamo de sociedade da ocupação. Uma definição que prefiro para além da divisão comum que se faz de dois lados ou de dois Estados. Posso desagradar a palestinos e certamente desagradarei a israelenses. Mas olho para este lugar como se fosse apenas uma sociedade, que interage no cotidiano sobre a base da violência ou de uma cooperação para a resistência conjunta. A Copa do Mundo será nosso norte, que congregará uma linguagem conjunta que pode, ou não, tornar possível essa visão de uma coisa única, porém, não harmônica. O desafio está apenas em seu primeiros dias.