terça-feira, 6 de julho de 2010

E se...

por João Carlos Assumpção

No futebol como na vida muitas vezes nos perguntamos: como teria sido se aquela bola tivesse entrado?, se o juiz não marcasse aquele impedimento?, se eu tivesse ido ao cinema e não ao teatro?, tido coragem de falar com aquela garota?

O "e se" faz parte do jogo, mas há muito tempo eu deixei de me perguntar como teria sido se algo diferente tivesse ocorrido num jogo de futebol.

Na vida ainda me pergunto. Conheci uma garota linda em Jerusalém que trabalha numa churrascaria argentina. Não tive coragem de conversar com ela, não na frente dos meus amigos. Quando criei coragem, fui, sozinho, ver se conseguia abordá-la. Mas era sexta à noite, shabat, o restaurante era kosher e só abriria sábado às 20h30, quando eu já estaria no aeroporto Ben Gurion para voltar ao Brasil.

Voltei a São Paulo com o "e se" na cabeça. Decepcionado. Mas a vida é um eterno "e se". Por isso não adianta ficar lamentando, o melhor, muitas vezes, é agir. Porque, como já escreveu o inglês Ian McEwan "é assim que o curso de toda uma vida pode ser desviado _por simplesmente não se fazer nada".

Mas fico refletindo que ao mesmo tempo temos de ter muito cuidado ao fazer as coisas. Pois às vezes pecamos pelo excesso, por falar demais e isso também não é legal.

Quando comentava jogos de futebol, evitava criticar A ou B com muita força, lembrando que todos somos passíveis de erro. O juiz, coitado, temos que ter sempre em mente, como já disse um amigo meu, que a luz que chega à sua retina pode ser diferente da que chega aos olhos do comentarista, ainda mais com o auxílio da televisão e de toda a tecnologia disponível.

Na vida, porém, nem sempre sou comedido e acabo cometendo injustiças, especialmente com amigos. Por falar demais. Tenho que julgar menos, especialmente meu próprio comportamento, para me sentir mais livre e me libertar das amarras. Como bem falou o Casagrande, em vez de passar a vida corrigindo erros, chega o dia de mudar a estratégia. E para alterar a estratégia temos de observar, analisar o contexto, ouvir mais do que falar, pois somos senhores da palavra quando ela ainda não foi pronunciada, mas quando sai da nossa boca viramos escravos dela.

É por isso que vou ver a final da Copa num spa. Descansando e refletindo sobre tudo. Para voltar de lá com uma nova tática. Espero que dêem certo: o spa e a nova estratégia. E que a Alemanha não ganhe o Mundial, pois entre os quatro semifinalistas é a única que pode ser tetra e se aproximar das cinco conquistas do Brasil.

9 comentários:

  1. Pelo menos você reconhece seus erros. O que irrita é um Dunga da vida que nem isso faz. A seleção mais uma vez perdeu e os jogadores saíram com a mesma empáfia de sempre, exceto o Júlio César, o Dunga com aquela cara de irritado, o Felipe Mello sem reconhecer que falhou, dizendo que não deu pisão nenhum, eles se esquecem que tem a TV pra mostrar tudo? Não consigo me conformar com aquele segundo tempo e com a Copa toda. Roubaram nosso futebol, como escreveu seu colega num texto anterior, cadê o futebol bonito que o Brasil sempre jogou?

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  2. Lindo texto Janca. Um beijo da Lu. E parabéns a todos pelo projeto, que acabei de ler e é incrível, pelo blog e por todo o trabalho. Vocês vão longe.

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  3. Arturo e João, vou fazer meu comentário mais extenso neste blog, porque não podia deixar passar em branco esse texto. João, o texto é comovente, como "psicólogo" eu sinto no que você escreve e escreveu ao longo do blog uma alegria enorme de viver mesclada com uma tristeza profunda _impressão minha, pessoal. O Arturo parece mais centrado, mais preciso, mais focado.
    Duas pessoas diferentes que formaram uma dupla que deu vida ao blog. Sem desmerecer o trabalho dos demais, foi o "jogo" entre vocês, o texto de um, depois a resposta do outro, daí a tréplica, as impressões pessoais, as historinhas que fizeram deste blog um blog diferente. Vocês dois estão de parabéns pois entenderam que futebol é mais do que um jogo. É uma parábola para a vida. Ao contrário do que escreveu um internauta, que disse que não acompanharia mais o blog, são pessoas como vocês dois, diferentes um do outro, que vão dar uma dimensão diferente também para o documentário. Não será mais um documentário sobre Israel/Palestina. Vocês têm tudo para fazer O documentário.

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  4. O espaço não foi suficiente, tenho mais a dizer. Da tabelinha entre vocês, Arturo e João, nasceu não só um belo blog, mas uma bela amizade, nem sei se vocês percebem. Vocês sempre se colocaram como colegas e amigos, mas nas entrelinhas a gente percebe o respeito que um tem pelo outro. Estive pensando que é disso que a humanidade precisa, é disso que uma região como Israel precisa. É disso que aquele internauta que deixou de acompanhar o blog precisa: dialogar. Quando ele disse que ia sair por discordar do Arturo, o Arturo respondeu com muita classe. O João, pela resposta, ficou mais irritado, apesar de a crítica ser a seu colega/amigo. Comprou suas dores, Arturo, mesmo discordando de você. Vendo uma tabelinha como essa a gente fica mais animado com o ser humano. Mais uma vez parabéns para vocês dois.

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  5. Um terceiro comentário: Arturo, mesmo discordando de muitas de suas posições, você fez eu parar para pensar. Há judeus e judeus, cada um com uma posição diferente, como há palestinos e palestinos. Mas você me fez ver uma realidade ao colocar suas impressões sobre Hebron que eu conhecia por TV, de longe. Você tornou isso algo mais perto de todos nós. Parabéns de novo pelos seus textos, Felipe

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  6. Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou.
    Acho que é Fernando Pessoa. Bjs. Gabi

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  7. Amigo Janca
    O blog de vocês cinco está incrível. Vá pro spa mas continue escrevendo. Vá pro spa, mas mantenha sua essência. Vá pro spa, mas saiba que o Rio também é sua casa. Um abração do Maurício

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  8. Lalo,

    por enquanto estamos acertando.
    ganhou Holanda, vai ganhar o jantar!!!

    abs,

    Malu

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  9. João Carlos Assumpção7 de julho de 2010 às 14:27

    Putz, obrigado a todos pelos comentários.
    Felipe, fiquei muito contente com o que você escreveu sobre a minha dobradinha com o Arturo, que foi divertida mesmo. Mas se nós dois escrevemos mais foi porque os outros estavam lotados de outras coisas. Aliás (e não digo isso por modéstia ou falsa modéstia, digo porque é verdade) quem menos está participando deste doc sou eu.
    Gabi e Maurício, obrigado também, não conhecia, mas gostei de "Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou".
    E Malu, pra você ver que entendo de bola _rs. Ganhou a Holanda e estou chegando lá. Vou cobrar o jantar do pessoal. Bjs. Lalo

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