domingo, 4 de julho de 2010

O fim de um país chamado Futebol Brasileiro

por Arturo Hartmann

Na sexta, fomos ate Sh´farm, uma vila palestina no norte de Israel. Assistimos o jogo do Brasil contra a Holanda com um ex-jogador de futebol, árabe, que fez um sucesso enorme na década de 80. Jogou pelo Macabbi Haifa e pela seleção de Israel. Sim, ele é uma fonte interessante para discutir o tema de nosso documentário, o Futebol e as Barreiras, falar sobre o jogo de nacionalidades que aflora neste território. Durante duas horas conversamos sobre suas contradições.

Mas não vou falar dele. Vou falar sobre nós, o Brasil. E algo que nos carimba, algo que nos marca, algo que faz parte de nossa cultura, a linguagem do futebol. Apenas através dos olhos deste ex-jogador pude entender como o futebol é importante não apenas para nós brasileiros, mas para sermos brasileiros. Ouvimos durante toda a viagem, e isso já foi discutido aqui por Lucas, como amam nosso futebol e nosso estilo de jogo. Ou como jogávamos. Sim, o futebol é uma linguagem universal. Israelenses e palestinos perceberam que algo mudou em nossa forma de jogar. Talvez seja enfadonho e demorado explicar como o mercado e a politicagem da CBF destroi há décadas essa "linguagem" que eles também amam. Perceberam que perdemos algo no caminho das últimas décadas. Não sei se entenderiam teorizações sobre Parreira e Telê Santana, sobre como o futebol de resultados e nossa vitória em 1994 iniciou uma processo que relegou a arte ao passado. Hoje o rigor burocrático faz as regras de como olhamos para o futebol.

A sensação que ficou para todos naquela sala, brasileiros, palestinos ou israelense, foi a de que perdemos, sem qualquer explicação. Cedemos. Talvez demais. Em 1994, não ganhávamos e aceitamos as atitudes de Parreira. Ele ganhou, é fato, mas talvez esta tenha sido a maior tragédia para aqueles que ainda esperavam uma compensação aos times de Telê da década de 80. A vitória do resultado. Em 2006, éramos os campeões. Fez-se de tudo. Viramos um circo, não de futebol, mas de mercado. Novamente, por um outro caminho, não jogamos futebol. Então vieram as regras militares de Dunga, regras, inclusive em campo. Vale mais a lealdade do que o que o jogador faz com os pés. Ganhar ou perder faz parte, mas em décadas não sabemos mais o que é este país chamado Futebol Brasileiro.

O jogador, ao fim do jogo, tinha seus olhos marejados. Quase chorou em 2010. Disse ter chorado em 82. Lembrava de Zico e Sócrates. Como ex-jogador, atual técnico e um ex-ídolo, sofria conosco, talvez mais do que nós. Por um momento, ele deixava de ser um palestino de 48 ou um árabe-israelense, alguém que digladia por sua identidade dentro de Israel. Naqueles segundos, foi cidadão do país que desaparece diante de nossos olhos.

3 comentários:

  1. Arturo,
    Infelizmente o futebol arte não existe mais.
    Um bando de soldadinhos de chumbo no gramado, fiquei com pena do nosso goleiro que chorou copiosamente nos braços de sua mãe. Mas a torcida brasileira marcou presença de apoio ao recebê-los, pena que Dunga continuou Zangado, quando ganha ataca e quando perde se cala.
    Como disse Lalo, Maradona terminou a partida com dignidade, não fugiu da raia. Foi uma tarde de silêncio em São Paulo.
    Abs, Malu

    ResponderExcluir
  2. João Carlos Assumpção4 de julho de 2010 às 17:54

    Não é que você e Lucas tinham razão? E o Juca Kfouri também. O Dunga, no fundo, pegou a tese do vamos jogar por resultados e aí fica "ou ganhamos ou ganhamos". Mas perdemos. E jogando de forma ridícula naquele segundo tempo contra a Holanda. Cadê o futebol brasileiro? Em 82, também chorei com a derrota, mas no dia seguinte, em Copenhagen, saí com orgulho com a camisa amarelinha. Agora não. Não tenho orgulho nenhum. Nem doeu a eliminação.
    E eu, que defendia as teses do Dunga, até para corrigir os erros de 2006, fico sem ter muito o que dizer para você e para os internautas, quando divergi do Lucas por causa do futebol-arte.
    O Lucas tinha razão e aproveito este espaço para dizer: errei!!! Sei que agora é fácil, deveria ter percebido o erro antes. Mas, vendo Uruguai x Gana, Alemanha x Argentina, Espanha x Paraguai, eu pergunto onde está o futebol brasileiro? Onde ele foi parar, Arturo? Perder jogando bonito é digno, mas perder do jeito que perdemos não dá.
    Por isso digo: chegou a hora de mudarmos de estratégia para não passarmos a vid corrigindo erros. É o que vou tentar fazer e espero que o futebol brasileiro também. Um abraço do Lalo

    ResponderExcluir
  3. concordo em tudo o que se diz já D Mainardi na sua coluna na veja tinha comentado sobre F Melo semanas atras.
    Pasando ao Sur de nossa fronteira, Maradona, o genio da bola, o ferrado das drogas,o showman da copa fez o que Dunga não fez na derrota da Agentina: abrazou, consolou um a um a todos seu equipe, u gesto de grandeza e reconhecimento de uma derrota esportiva, que faz parte, foi um gesto de vencedor o nosso Dunga se mandou como um vampiro na sua roupa ridicula que parecia fazer propaganda a uma loja de brechó, nenhum exemplo para nossas crianças..

    ResponderExcluir