terça-feira, 29 de junho de 2010

De novo, o sul de Tel Aviv

Por Arturo Hartmann

Fomos no último sábado ao sul de Tel Aviv novamente. Este segundo contato com a comunidade que se aglomera neste bolsão de pobreza apenas confirmou a primeira impressão que tivemos: aqui há um mundo onde o silêncio é a melhor forma de se proteger. Jornalistas e suas perguntas não são bem-vindos. Eles vivem entre governos africanos dos quais tiveram que fugir, que os expulsaram de sua terra e no território israelense que não garante muito uma situação estável. O sul de Tel Aviv de fato virou um bolsão de negócios não exatamente legais.

Sentamos em um café, em um dos poucos restaurantes que nos acolheram com certa simpatia. Usualmente são os russos que nos impedem de filmar, ou são grossos com clientes, especialmente os novos estrangeiros. Era um restaurante de sudaneses e eles fizeram questão de que víssemos o jogo Gana X Estados Unidos com eles. Sentei com um cliente, falava um bom inglês. Não queria dar entrevistas. As histórias de Darfur são tristes. Ele disse que as pessoas de Darfur não gostam de dar entrevistas, querem se proteger do governo que deixaram para trás. Ele me diz que está sozinho em Israel, que sua família foi morta. Como a dele, muitas histórias são assim.

O dono de bar, no entanto, não tinha o canal que iria passar o jogo. Ele nos guia até o bar de um eritreu, outro dos grupos de refugiados que estão por aqui. Mas quem de fato torcia eram ganeses. Um deles olha para mim no meio do primeiro tempo e grita: “This is Africa, this is not America”. Sentiam orgulho por ver seus compatriotas enquanto lutam por uma vida por aqui. Encontramos um sudanês e um eritreu que podem nos esclarecer um pouco da situação da comunidade que se aglomerou na parte sul da capital israelense. Mas ainda nada garantido. Tudo pode mudar na vida dessas pessoas.

No final da partida, já na prorrogação, quando Gana estava um gol à frente, quando parecia que os africanos de fato passariam a próxima fase, eles comemoravam. Um deles me disse: “Obama está conosco”. De fato, as nacionalidades se misturam. Adaptam-se aos olhos, à interpretação, ao sentimento. Estar longe de casa – no caso destes africanos - ou perto de um conflito – como palestinos e israelenses - nos acomete de paixões. Estar perto da pobreza, somos brasileiros e sabemos, também. Bill Clinton, já nos minutos finais, aparece no telão. Um ganês não se contém: “Go home!”.

3 comentários:

  1. João Carlos Assumpção29 de junho de 2010 às 01:29

    Grande Arturo, só um comentário para você rebater, se quiser. Não é só o território israelense que não garante muito uma situação estável aos imigrantes africanos.
    Na Europa eles vivem em situação difícilima, vi isso em Milão, onde estive no ano passado, por exemplo.
    Aliás, há um filme muito interessante sobre a situação (poderia ser dos africanos, mas é dos muçulmanos) na França. Chama-se "Bem-Vindo". É de doer o coração.
    E há um livro fantástico para mostrar a situação deles não só na África, como eles têm de fugir, mas também nos Estados Unidos, chamado "What is the What" (em português "O que é o quê"), do Dave Eggers, um escritor da nova geração da América de quem gosto muito. Embora uma grande amiga minha, de Nova York, que também o conhece, não goste. Mas a leitura é interessante.
    Abs. do Lalo

    ResponderExcluir
  2. Olá, Lalo! Faz falta por aqui.

    Então, não tenho o que refutar, você está completamente correto nessa questão. Apenas quis demonstrar a vida difícil e cheia de dificuldades destes refugiados. Suas dificuldades vêm da perseguição que sofreram de seus governos, Sudão, Libéria ou Eritreia, das dificuldades que passaram no Egito - a política por lá é atirar para matar - e agora uma situação instável em Israel, onde podem ser explorados exatamente pela situação ilegal na qual se encontram. O que, de fato, não difere da situação de outros refugiados na Europa.

    Apenas pontuei um fator que cada vez mais ganha importância, pela quantidade também, na sociedade israelense.

    Um grande abraço
    Mais para frente falo sobre o termo limpeza étnica e o Hamas. Aí não concordamos completamente.

    E tá vendo, Lalo. Minha aposta na Alemanha até que caminhou.

    Abração
    Arturo

    ResponderExcluir
  3. João Carlos Assumpção29 de junho de 2010 às 02:31

    Grande Arturo
    É isso mesmo, pensamos da mesma forma sobre essa questão dos africanos que é muito triste mesmo. Em Israel, na Europa, em tantos lugares... Fora a dívida que temos com eles no Brasil.
    E quando quiser colocar o que pensa sobre o uso do termo limpeza étnica e a questão do Hamas, fique à vontade, aqui é um fórum de debates e cada um tem sua opinião. São opiniões divergentes, mas sem debate não chegamos a lugar algum.
    Quanto à Alemanha, você bem que acertou. E acertaram a Argentina também. Eu acertei com a Holanda, mas espero errar na sexta. Abração, Lalo

    ResponderExcluir