segunda-feira, 28 de junho de 2010

"Na praia"

Por João Carlos Assumpção

Sei que segunda é jogo do Brasil e só vai se falar nisso. É justamente por este motivo que vou mudar de assunto.

Vou falar de literatura. Ou melhor, de política. Ou de conflito. Um dos livros mais vendidos em Israel é "Son of Hamas", de Mosab Hassan Yousef, escrito com o jornalista Ron Brackin. Encontra-se em português, com o título "Filho do Hamas - Um relato impressionante sobre terrorismo, intrigas políticas e escolhas impensáveis".

Não é muito bem escrito, não, e tenho uma série enorme de críticas à obra. Mas vale ler, pois conta histórias... impensáveis. Que até parecem mentira. Mostram o relato de um dos filhos de um dos fundadores do Hamas, organização terrorista palestina, sendo que o rapaz acabou colaborando com o serviço secreto israelense.

Ele trocou o islamismo pelo cristianismo, talvez seis por meia dúzia, o que me deixa com um pé atrás. Fala muito em Deus, eu prefiro falar nos homens e mulheres. Mas, enfim, mostra a corrupção de Yasser Arafat, os bastidores do serviço secreto israelense, das organizações palestinas, é um livro que dá para terminar em dois dias.

O que mais me chama a atenção é como um povo pode - e acaba sendo - massa de manobra de seus políticos. Isso acontece com os palestinos, que tiveram Gaza sequestrada pelo Hamas.

Podem discordar de mim, mas é o que acho.

É tão difícil opinar, pois nós, do mundo ocidental, temos enormes dificuldades de entender as complexidades que envolvem essa região do Oriente Médio. Sou, portanto, reconheço, um mero aprendiz.

Recomendo outros dois livros, muito mais bem escritos, que não são ligados ao Oriente Médio, mas sim às questões humanas. Um dele é o "Na Praia", de Ian McEwan, um mestre da escrita, que mostra o que o não-dito pode representar numa relação entre duas pessoas. Outro é "Adeus, China - O último bailarino de Mao", de Li Cunxin. Um livro humano que demonstra o mau que Mao (parece um trocadilho, sei lá) fez à China. Muito mais bem escrito que "Filho do Hamas".

De qualquer forma, continuo pensando no micro, não no macro. Sábado à noite fui tomar uma cachaça (quer dizer, eu fiquei no chope, ele na cachaça) na Vila Madalena com um grande amigo que fiz em Tel Aviv e que está passando férias no Brasil. Um primo distante. Gente boa pacas. Um cara sionista, que não concorda com termos como limpeza étnica, assim como eu não concordo, que diz que muitos usam o termo limpeza demográfica, que está buscando suas raízes judaicas e com quem adorei conversar. Um amigo. Não importa a ideologia. Importa a pessoa. E ele é um cara do bem. Lembrou que "somos apenas 13 milhões no mundo". Por que incomodamos tanto? Já estou falando no plural, incluindo-me na contagem, como ele me incluiu, mas sigo pensando, como ele pensa, que temos que levar os direitos dos palestinos em conta, assim como os palestinos têm de levar os israelenses e os judeus em conta para chegarmos à paz.

Temos mesmo. Ele acredita na paz, num futuro não tão distante assim. É um otimista. Eu já sou mais cético... E viva o Brasil! Que melhore contra o Chile e passe às quartas-de-final.

14 comentários:

  1. Lalo,
    "Sobre futebol e barreiras" é o "jornal" que leio diariamente. Gostei da abordagem do seu texto, como sempre para se pensar. Não tenho muita esperança do Brasil ganhar essa copa, mas sei que apesar de todos problemas oriundos da colonização exploratória desde 1500, somos um reduto da Paz no mundo. Viva o Brasil!!!!
    abração, Malu

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  2. Não tem como ninguém chegar à paz do jeito que estão as coisas, João. Os judeus não se entendem entre eles, os ortodoxos estão cada vez mais fortes, quem veio da Europa Oriental não se dá com quem veio do Egito, os políticos são corruptos, vide o Sharon e sua família, ele agora vegetando. Pegue os árabes, a fortuna que o Arafat fez na Europa, o jogo duplo deste político que acabou aceito por Israel, a corrupção no Fatah, no Hamas, a disputa entre eles próprios, os árabes muçulmanos, os árabes cristãos, é um circo onde poucos fazem muitos de palhaço e a violência aumenta a cada dia. Sem solução, ninguém quer ceder, principalmente Israel, que é mais forte do que os palestinos e está com a bola do jogo nas mãos.

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  3. Esse livro é um dos mais vendidos em Israel porque foi escrito por um traidor e é totalmente contrário à causa e aos interesses palestinos. Simples.

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  4. Essa Copa tá uma vergonha com essa arbitragem medíocre. Ontem operaram a Inglaterra e depois o México. A Fifa continuar sendo contra a tecnologia pra ajudar a arbitragem é uma vergonha. O que vocês acham disso?

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  5. O Arturo colocou num texto dele a briga entre judeus ashkenazis e sefarditas numa escola para meninas. Isso apenas serve para demonstrar por A + B quem é o responsável por toda a crise que passa Israel e a Palestina. Enquanto os ortodoxos estiverem no poder, nunca haverá paz. Enquanto os fanáticos do Islã estiverem comandando a palestina, nunca haverá paz. Até quando vão usar a religião para matar e morrer? São eles, os religiosos dos dois lados, os culpados por tudo o que está acontecendo no país, João. Abs. a todos do Futebol e Barreiras, Rafael

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  6. Lalo, adorei o post. Mas fiquei com uma dúvida: seria o Hamas um partido político radical ou um grupo terrorista? Fiquei confusa...

    (Nunca li livros do Ian McEwan, somente textos em revistas e a adaptação pro cinema de Atonement. Valeu pela dica, vou ver se começo por este que vc comentou. Obrigada!)

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  7. Mais um comentário meu (agora sobre futebol, sobre barreiras comentei anteriormente, não se esqueçam de aprovar meu comentário): o grupo (menos o João) tinha razão. Alemanha e Argentina são disparados os melhores times da Copa. Pena que vão se enfrentar nas quartas-de-final, a final da Copa tinha que ser essa. Aqui no Brasil falam em Brasil x Argentina, mas o Brasil não merece e cai fora logo mais. Escrevo antes de Brasil e Chile, esse time do Dunga, lamentavelmente falando, não vai longe. Quanto à Holanda do João ficou em primeiro do seu grupo na primeira fase por uma injustiça, porque o melhor do grupo e a grande novidade deste Mundial é o Japão. Abs. mais uma vez do Rafael

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  8. João Carlos Assumpção28 de junho de 2010 às 18:58

    Obrigado a todos os que escreveram, Malu, Alê, Rafael, Bianca e Anônimos.
    Sobre os comentários e as perguntas, tenho a dizer o seguinte:
    1) Bianca, considero o Hamas, por tudo o que leio, um grupo terrorista, mas o Arturo certamente tem mais propriedade para responder sua pergunta;
    2)Malu, também não estou mais tão otimista em relação à conquista da Copa, mas...
    3)Rafa, concordo com você em relação à questão religiosa no Oriente Médio. Os ortodoxos são um problema sério e crescem cada vez mais em relação aos seculares, o que me deixa muito preocupado. Os ultraortodoxos, então, nem se fala. A religião serve de desculpa para tudo, dos dois lados, o que é uma lástima. Sobre futebol, meus amigos mostraram que entendem mesmo de bola ao apostarem na Argentina e na Alemanha. Mas a Holanda, na qual apostei desde o início, acabou de avançar para as quartas-de-final. E com 100% de aproveitamento.
    4) Alê, em relação ao uso da tecnologia sou favorável, contanto que seja limitado. Um chip embaixo do gol resolveria a injustiça cometida ontem contra os ingleses. Mas a questão do impedimento acho discutível. O erro humano, inclusive do juiz, faz parte do futebol. A injustiça também, como faz parte da vida.
    Abs. a todos, João Carlos (ou Lalo para alguns)

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  9. Lalo,

    Dificil falar que o Hamas sequestrou Gaza. Ganharam ali uma eleição livre (com observadores internacionais), Não só ali mas também na Cisjordania. Não morro de amor por eles, mas não acho que esse golpe ajudou em nada.

    Além do mais, a palavra terrorista atrapalha mais do que ajuda. O que dizer do Congresso Nacional Africano do Mandela? E o Haganá do Menachen Begin que depois virou primeiro ministro de israel, e que atentava contra civis? A resistência francesa na segunda guerra? Onde termina a luta legitima e começa o "terrorismo"?

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  10. João Carlos, ou se usa tecnologia pra tudo ou não se usa pra nada. Você propõe o meio-termo, o que é uma bobagem. Ajudaria a Inglaterra, mas não o México. você acha isso justo?

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  11. Malu, sabe que esse também virou um dos meus "jornais diários"? Não tenho comentado muito mas leio diariamente. São textos inteligentes, de pessoas cultas e qualificadas. Quero ver o documentário. Estou divulgando entre meus amigos e amigas aqui do Rio. Rio que está uma beleza de novo pra ver o jogo do Brasil. Quero que continue assim depois da partida, mas tô com medo do Chile. É aquele frio na barriga gostoso, diferente, imagino que, do frio na barriga de uma guerra. Bjs. Andreia

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  12. O que estão falando do Luís Fabiano aí em Israel?

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  13. João Carlos Assumpção29 de junho de 2010 às 01:13

    Meu caro Thor
    Obrigado por seu comentário, mas queria deixar aqui minha resposta:
    Não acho tão difícil dizer que o Hamas sequestrou Gaza, não, embora Arturo e Lucas, que são historiadores, possam me corrigar. Expulsaram o Fatah e, pelo que eu saiba, são uma organização terrorista, sim. Você mesmo, em seu texto, coloca que "esse golpe não ajudou em nada". Ou seja, no mínimo deram um golpe.
    Fico feliz em saber que você até pode respeitar o grupo, pelo que entendi, mas não morre de amor por ele. Seria só o que faltava. Há motivos melhores para morrer do que o Hamas, caro Thor.
    Quanto ao Begin, que eu saiba ele foi terrorista, sim, o que acho condenável, mas não do Haganá. E lamentável ter ganho o Nobel da Paz, como o Arafat também ganhou, embora em anos diferentes, Arafat, que sempre alimentou o terrorismo e suas contas bancárias na Europa.
    Sobre a resistência francesa na Europa durante a Segunda Guerra e o Holocausto, acho louvável. Não acho louvável o que fizeram os colaboracionistas, mas a resistência foi feita por muitos heróis, sim. Resistiram contra a dominação nazista, que segundo o presidente do Irã não existiu _ou pelo menos o Holocausto teria sido uma invenção da humanidade.
    Entendo o que você quer dizer sobre o limite entre luta legítima e terrorismo, mas não concordo com seu ponto de vista, colocando tudo no mesmo saco. Abs. do Lalo

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  14. João Carlos Assumpção29 de junho de 2010 às 01:16

    Em relação às demais perguntas, acho justo sim usar tecnologia para determinadas coisas no futebol (como saber se a bola entrou ou não) e não a usar em outras (como lance de pênalti, por exemplo, ou falta, que é interpretativo, embora muitas vezes de fato falhe). Acho que erro de juiz faz parte do jogo, embora defenda o chip para sabermos se a bola entrou ou não. Mas só o chip.
    Sobre o Luís Fabiano, claro que deve estar sendo comentando em Israel, meus quatro amigos que estão lá podem responder com maior precisão, embora, antes de a Copa começar e logo em seu início, o nome do Brasil mais badalado era, de longe, o de Kaká. Abs. João Carlos

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