quinta-feira, 24 de junho de 2010

O time do campo

por Arturo Hartmann

Voltamos a Terrritório Palestino, a Cisjordânia. A pequena ausência de relatos se deve ao trabalho cansativo dos últimos dias. Mas escrever e relatar o que vemos e sentimos neste blog faz parte do trabalho.

Nesta volta, nossa primeira parada foi a cidade de Nablus, mais especificamente Askar, um campo de refugiados em seus arredores. Famílias de palestinos que viviam no que chamam de território de 48, ou no que nós conhecemos por Israel. Foram expulsos naquilo que as versões da história podem dar como a guerra dos árabes contra Israel, para sua total destruição, ou a limpeza étnica que as forças judaicas realizaram contra os palestinos, para a construção do Estado judeu.

Dois dias antes conversamos com um palestino de Jaffa, um árabe-israelense. Ele vive em um lugar para quais muitas das pessoas que encontramos em Askar sonham voltar. No campo de refugiados, encontramos um jogador estrangeiro, sul-americano, que joga pelo campo de Askar. Sua história começou na Espanha, mas então recebeu uma oferta do futebol de Israel. Ali ficou cerca de 7 meses, mas o time todo foi desfeito após uma temporada que não agradou ao dono. Acabou na Palestina. Fez questão de entrar na aventura de jogar na terra do conflito porque almejava um país árabe rico. Queria os milhões do Golfo. Como muitos.

A história se assemelha muito com tantas outras do mundo do futebol que ouvimos no Brasil. Até certo ponto. Isso se não fossem as bandeiras da ONU e as placas de Agência para os Refugiados Palestinos (Unrwa) em todas as escolas. Se não fosse pelo desespero de sua mãe ao saber para onde o filho ia. Pela preocupação de estar indo para a terra onde Gaza estava sendo atacada. Ao seu redor, no lugar onde mora, os postos de controle do exército israelense. E dando vista do telhado da casa onde mora no campo, o assentamento de Elon Moreh.

Sua aventura futebolística o levou à terra de conflito. Impressionou-se com as histórias que ouviu dos palestinos sobre soldados que atiravam de pontos altos, para baixo. As pessoas não podiam sair de casa. Era o toque de recolher da Segunda Intifada. Nablus, consenso, na Cisjordânia, foi a cidade que mais sofreu, foi ela que centralizou o levante. A pobreza e precariedade de estrutura de Askar, no entanto, lembraria seu país. Lembraria o nosso Brasil.

3 comentários:

  1. O que mais chamou a atenção na Cisjordânia? Quem manda lá? Se puder conte algumas aventuras. Sabe se existe seleção palestina? Abs. do Douglas

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  2. João Carlos Assumpção25 de junho de 2010 às 05:15

    Você citou o assentamento de Elon Moreh, a questão dos assentamentos é muito complicada, conforme conversamos aí em Israel. Muito complicada. Porque já são tantos vivendo nos assentamentos que isso tem que fazer parte de qualquer rodada de negociação de paz. Para termos dois Estados e não dá para vislumbrar a paz, pelo menos eu não consigo vislumbrá-la, sem dois Estados, os dois lados vão ter que ceder muito. E controlar os radicais, tanto os radicais judeus quanto os muçulmanos. Controlar os radicais é o que parece mais difícil... Na verdade é tudo tão difícil e faltam lideranças dos dois lados. É uma lástima, para não escrever um palavrão. Abs. Arturo, Lalo

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  3. João Carlos Assumpção25 de junho de 2010 às 14:46

    Oi Douglas, o Arturo "publicou" mais dois textos contando as aventuras, que não são poucas, pela Terra Santa. Abs. João Carlos

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