terça-feira, 29 de junho de 2010

Meu amigo holandês

Por João Carlos Assumpção

Sexta é dia de Brasil x Holanda. E como é meu costume, em vez de enfocar o macro, a análise das duas equipes e o que o jogo representa para cada uma, prefiro ficar no micro.

Admito que sou fã do futebol holandês, que revolucionou o futebol mundial com seu carrossel, quando acabou vice em 1974, perdendo a final para a Alemanha. Quatro anos depois, novamente vice, desta feita para a Argentina. Em 1994 - e é aí que vou para o micro -, acompanhei com quatro amigos brasileiros e um holandês, in loco, nos Estados Unidos, as quartas-de-final contra a Holanda. Conhecemos nosso amigo holandês, que viajava sozinho, num hotel simples de beira da estrada. Conversamos muito com ele e construímos uma bela amizade. No dia do jogo, nós o levamos até o estádio. Um aperto no carro, cinco amigos de verde-amarelo, um de laranja e com o rosto todo pintado das cores da Holanda.

Separamo-nos durante o jogo e no final voltamos a nos reunir no estacionamento, nós cinco eufóricos, ele, cabisbaixo. No carro pouco falamos de futebol, respeitando a dor de nosso novo amigo que no dia seguinte voltaria para casa.
Dois anos depois voltaria a vê-lo. Fui visitá-lo em Gouda, um lindo vilarejo onde morava na Holanda. Foi me apanhar na estação ferroviária, passou o final de semana em minha função e na segunda-feira, quando voltei a Amsterdam, ele se apresentou ao Exército. Fazia parte das tropas de paz que iam monitorar algum canto da ex-Iugoslávia. Um dia me mandou uma foto de lá, vestido de soldado.

Em 1998, na França, quando o Brasil voltou a vencer os holandeses, agora nos pênaltis, ele não apareceu. Ainda nos falamos por telefone, mas seu pai estava muito doente. Quase dois anos depois, quando retornei à Europa, tentei procurá-lo, mas em vão. A família havia se mudado e nunca mais soube deles. Sempre que a Holanda joga penso no Pascal, um rapaz do bem, com quem conversei tanto naquele final de semana em Gouda e o presenteei com uma camisa do Corinthians, outra do Flamengo. Espero que esteja vivo e bem, embora não tenha muita esperança de revê-lo. Foram várias as tentativas, todas infrutíferas, de reencontrá-lo.

Em geral torço pelo futebol holandês, minha aposta inicial para ganhar essa Copa. Mas não na sexta. Sexta, apesar do meu amigo, jamais conseguiria deixar de ser Brasil. E acho que temos time para vencer. E vencer bem. Se vamos conseguir ou não, são outros 500. Mas que estou confiante, cá entre nós, estou.

11 comentários:

  1. Já que você não quis me responder pessoalmente, saio do muro e diga: qual seu palpite pro jogo? Com placar e tudo, Janca, como você fazia nos tempos de Sportv. Abs. Marcelo
    Tá aí, agora tem que responder.

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  2. O Globo hoje deu uma boa definição sobre o jogo da seleção. Melhorou, mas ainda não encantou. Eu acho a Holanda favorita, eles têm um contra-ataque muito forte e se o Brasil se abrir vai ser difícil vencê-los. Abraço pra todos vocês, Douglas

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  3. João Carlos Assumpção29 de junho de 2010 às 17:54

    Oi Marcelo, já que você insiste... Eu tinha dito que a Holanda era minha favorita pra ganhar o título, mas espero que dê Brasil e acho que vamos ganhar. Prefiro não chutar um placar, antes vou consultar o Diogo, pra quem não sabe é meu sobrinho de sete anos, que costuma acertar. Na Copa de 2006, disse que o Brasil ganharia da França por 3 a 1. Perdemos por 1 a 0. Agora talvez seja melhor dizer que a Holanda ganha por 1 a 0. Quem sabe não dá Brasil? Abração procê, Marcelo, Janca. E em relação ao comentário do Douglas, também acho esse time da Holanda muito bom, muito competente, todo cuidado é pouco. Um abraço do João Carlos

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  4. Lindo texto, João. Tão lindo como o Rio num dia de jogo do Brasil. E o Rio de ressaca depois de uma vitória tão bonita. Mas por que que você apostou na Holanda como campeã? Algum motivo especial? Bjs. Andreia

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  5. Você é incoerente ou malandro. Porque diz que a Holanda vai ser a campeã, mas que o Brasil é favorito na sexta. Não tem alguma coisa errada aí?

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  6. João, você falou do Kaká, do Robinho e do Julio Cesar como os melhores do Brasil. Esqueceu o Fabuloso e o Lúcio? Pra mim o Lúcio é o melhor jogador do Brasil até aqui. Por que que você não gosta dele? Bjs. mais uma vez, Andréia

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  7. João Carlos Assumpção30 de junho de 2010 às 00:44

    Calma, Tricolor. Eu sou malandro mesmo. É que antes da Copa tinha apostado na Holanda. Gosto muito do Sneijder, que atua como meia de ligação, além dos atacantes Robben, Kuyt e Van Persie. Mais do que o Robben, acho o Sneijder o principal jogador. O goleiro também é fantástico, mas espero que frangue na sexta, embora a zaga considere apenas razoável. Em relação ao Brasil, Andreia, adoro o Lúcio, que talvez tenha sido mesmo até aqui o melhor jogador do Brasil. Falha minha. Abs. João Carlos

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  8. Quatro sul-americanos classificados entre os oito finalistas. Não chegou a hora de a Fifa dar mais uma vaga para a América do Sul? Por que badalam tanto os europeus?

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  9. Grande Janca,
    Uso este texto como muleta para comentar todos os demais. Numa era em que futebol é tratado de maneira séria, sisuda e chata demais, sempre é bom lembrar o que ele significa. O poder imensurável de deixar pessoas tristes e felizes pelo simples fato de uma bola tocar na rede. Sem respeitar fronteiras ou credos. Quisera eu que isso fosse sempre lembrado. Se o Dunga é isso, se o Elano é aquilo, tudo isso é notícia velha. O que importa é a essência do jogo.
    Vivas a este blog.

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  10. João, escreva mais vezes. Sinto falta de seus textos, quando abro o blog gosto de ler suas historinhas. Aqui no Rio muita expectativa pro jogo de amanhã. Bjs. Andreia

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  11. João Carlos Assumpção2 de julho de 2010 às 05:07

    Grande Dieguito, você é amigo e amigo de coração. Então seu comentário não vale. Brincadeira, vale muito. Um dos melhores jornalistas que já conheci. Obrigado, Diego, em meu nome e no de toda a equipe.
    Andreia, não te conheço, mas fiquei muito contente com seu comentário. Prometo escrever mais.
    Quanto ao número de vagas para os sul-americanos, sou favorável a cinco e não quatro e meia (a meia sendo a repescagem) como é atualmente. Abs. a todos, Janca (João Carlos)

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